É engraçado como o tempo voa quando estamos nos divertindo 💓

Gosto de usar títulos com nomes de canções. De deixar-me conduzir pelo fluxo de palavras. A rotina tem-me exaurido, no entanto, um tempo para escrever será de grande ajuda, organizar aqueles cantos da mente que foram um pouco relegados, o que implica um confronto direto com feridas que nunca se fecharam.

Muito se fala acerca da “crise dos 30 anos”; aproveito o ensejo para ressaltar que quando completei 24, senti um profundo desespero porque havia criado na cabeça o ideal de zerar a vida antes dos 30, então queria casar-me o quanto antes, ter filhos, tornar-me uma escritora best-seller como se houvesse um cronômetro me perseguindo. E o que costumava me fazer feliz tornou-se um martírio.

Admito minhas tendências autodestrutivas e meus atos de imaturidade e insensibilidade. Cometi grandes erros, arrependo-me, paguei com juros por tudo, cheguei ao fundo do fundo do poço. Se tivesse me ferido apenas a mim mesma, ótimo, contudo, magoei várias pessoas enquanto caía no submundo da depressão, à medida que tomei decisões fomentadas pela impulsividade, na ânsia de apequenar-me para caber em lugares onde nunca fui e jamais serei bem-vinda.

Fui-me retirando de cena porque seria impossível permanecer naquele estado de profundo deslocamento, repetindo sempre os mesmos equívocos, dando munição aos haters. Era preciso “olhar para dentro”. O processo persiste. Coleciono alguns avanços, tropeço nos retrocessos, vou equilibrando-me na corda-bamba e esforço-me para não olhar para trás nem para baixo.

Completo 35 primaveras daqui a 4 semanas, já vivi uma parte considerável do tempo previsto desta jornada. Não sinto medo da idade porque nesta arte de viver sou uma eterna aprendiz e recomeços fazem parte; sonhos são sonhos, e deixar de acreditar neles desconectou-me totalmente dos meus propósitos, foi pior do que todos os “nãos” que já ouvi e ainda ouço.

Desistir deixa um gosto muito amargo na garganta, aquela dorzinha no peito, como se algo muito importante faltasse… estrangeira em mim mesma… perdida… e mais distante ainda de reencontrar o caminho… porque há muito medo envolvido… das pedradas dos odiadores, dos eventuais golpes sujos, de sentir-me idiota por tentar outra vez…

Quando olho para meu eu de 24 anos, vejo uma jovem depressiva, solitária, que saiu de um relacionamento abusivo (amizades também são!) e viu todos ficarem do lado do macho escroto, alguém que perdeu a confiança nas outras pessoas depois de ser tão maltratada. Era lógico que eu queria dar a volta por cima, ele me humilhou muito, destruiu tudo que tocou e saiu vencedor. Eu queria me empoderar, me reafirmar, me sentir mulher, desejada, querida, especial, amada e válida, só queria um pouco de calma após tanta turbulência. Acolho essa moça chorosa, dou-lhe um abraço, acolho essa dor, sinto-a até os limites, não invalido quaisquer que sejam as opiniões. Tudo faz parte do processo de libertação. Há outras pessoas, outras oportunidades, um novo amanhecer.

O que minhas histórias tinham a ver com o caos da vida real?

Quando criança, o que me motivou a escrever o faz-de-conta foi logo a possibilidade de escapar um pouco da realidade. Em que momento afastei-me desse propósito não sei com exatidão, mas os indícios não tardaram a mostrar-se, ignorá-los foi um erro. Se tem escritoras por aí que na mesma época publicaram lá no Wattpad e hoje vivem da popularidade dos livros colegiais, POR FAVOR, não me compare com elas, não nasci tendo os mesmos privilégios, não tive acesso a tudo que elas tiveram; não desmereça meus esforços e nem tente me dizer o que fazer, sobretudo se o que digo não te agrada.

A razão de eu amar uma personagem minha era justamente pelo fato de ela ser uma mulher subversiva, aquela que veio de baixo, tinha tudo para dar errado (e torcida contra nunca faltou!), quebrou paradigmas e venceu. A força da leoa, daquela que nunca levou desaforo para casa, cutucou as feridas ao falar verdades, caiu várias vezes e recusou-se a permanecer no chão. Desistir jamais foi opção.

Era engraçado como o tempo voava quando eu ainda sabia me divertir, escrevia por amor e prazer. As pessoas notavam aquele brilho insistente no olhar quando comentava a respeito das histórias, tanto que aquelas que nem tinham o costume de ler rendiam-se. Hoje gostaria de saber o que dizem meus olhos, terão as janelas da alma se fechado para sempre?

Para preservar a vida pessoal e acadêmica, utilizo meu nome real. No meu mundo mágico sou a Marisol, a eterna MaryPrincess88, que escolheu só um pseudônimo para assinar as produções artísticas. Não procuro fama nem popularidade, apenas reconstruir as estruturas abaladas e voltar a sonhar como se nada tivesse acontecido. O que o amanhã me traz, não faço a menor ideia… e talvez seja melhor não saber, hoje vivo um dia de cada vez e penso nele com amor, gratidão, enxergo todas as possibilidades de fazer dele o dia mais feliz da minha vida.

Curitiba, 21 de outubro de 2023.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 21/10/2023
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T7914067
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.