Hoje, ao menos quando olho para os textos que escrevi, vejo-me neles de volta. E gosto disso ✍️

A lista de finalistas do The Wattys saiu e Simplesmente Tita não está lá.

Não posso mentir que não sinto uma pontada de raiva e me pergunto o que há de errado comigo (em relação ao Wattpad, faço-me esta indagação desde 2015), no entanto, aceitar a realidade simplifica muitos dramas. Surtar, espernear e ligar a torneirinha de asneiras, além de ser patético, pode me colocar em encrencas evitáveis.

Um jeito interessante de tentar abstrair a decepção e outro não da vida é ser meio Polyanna, lamber as feridas, extrair algum ensinamento, ver a situação da perspectiva do copo meio cheio. Ser paciente. Meu dia está próximo; o tempo de Deus decorre noutro ritmo, diferentemente do meu, contaminado pelo imediatismo da modernidade.

Para quem mal queria voltar a escrever há um ano, inscrever ST no The Wattys e ter pelo menos um livro com mais de 40000 palavras é uma vitória e tenho gratidão por todas as pessoas que ao longo desses 14 anos (contando o primeiro blog até hoje) que contribuíram de alguma forma, vocês não foram em vão. Os leitores que me acolheram e amaram moram nas minhas mais doces recordações, aqueles que atiraram pedras e me feriram com palavras me ensinaram muito também.

Vencer ou pelo menos ser finalista do The Wattys seria uma grande conquista pessoal, é inegável. Se estiver no meu destino, experimentarei essa sensação; se não, vida que segue.

Dez anos atrás eu vivia uma época muito produtiva e às vezes bate uma saudade gostosa de dar conta de tantas tarefas, saudade de ter amizade com os leitores e debatermos sobre as histórias, hoje a vaidade dá uma choradinha porque não sou a autora preferida de ninguém e quem me lia já me esqueceu.

Embora eu respeite a proposta do Wattpad e o veja como uma plataforma promissora para quem gosta de ler e/ou escrever, a minha experiência nunca foi feliz por lá. Eu era mais feliz cuidando de blogs, entretanto, o objetivo aqui não é lamentar e sim agradecer por todas as experiências que permitem hoje ter outra visão sobre tudo; sinto falta do meu eu corajoso e autêntico de 2013, meu eu de 2023 orgulha-se dele e sei que ele tem orgulho de me ver cada dia mais buscando amadurecer, evoluir e assumir que não é culpa das pessoas, de nenhuma teoria da conspiração, não é culpa do eclipse, das estrelas, do governo, é minha. Foram escolhas que fiz, boas ou ruins, elas são pontos relevantes da minha própria história e acolhê-las como parte de mim, do meu crescimento e não tem como crescer sem dor.

A minha escrita de hoje precisa refletir o que aprendi nos últimos anos, a importância de reconhecer meus erros, utilizar a habilidade de forma construtiva e positiva e, sim, recomeçar. Um passo de cada vez. Vergonha eu sentiria de desejar o mal dos outros colegas, achar que eles não merecem o reconhecimento que têm porque além de configurar-se em inveja, denotaria mesquinhez e falta de espírito esportivo. Aplaudimos quem está no palco, não sabemos por quantos espinhos essas pessoas passaram até chegar lá, pois também chegará o nosso dia. Devemos, dentro do possível, sermos exemplos para aqueles que estão pensando em desistir ou querem começar e não sabem por onde. Sejamos aqueles que edificam, abençoam e utilizam as palavras com sabedoria e respeito.

Em vez de culpar tal gênero pela falta de reconhecimento, devemos nos concentrar em ler, ler de tudo, ler para adquirir bons referenciais, praticar, corrigir, revisar, pesquisar, mas pesquisar muito sobre o que aspiramos abordar. Vivemos uma época a qual estamos sempre nos comparando com os outros, parece até clichê falar que cada um tem o seu próprio tempo e histórias não precisam ser iguais às outras; só devemos nos comparar com nossa versão do passado e batalharmos para orgulhá-las e agradecê-las por prepararem o ambiente para que hoje sejamos quem somos e continuemos carregando nossos sonhos dentro de nossos corações.

Se eu não escrever minhas histórias, os anos passarão da mesma forma… mas terá valido a pena parar porque me cobrei demais e tentei ser algo que não era para sonhar algo que nunca quis tanto assim?

Excluir uma história é fácil, porém, e o tempo que trabalhei para organizar cada capítulo, escrevê-lo? E os leitores que com tanta gentileza favoritaram, votaram, comentaram e ficaram a ver navios?

Às vezes, é só um dia ruim, e dias ruins não duram para sempre…

Se for o caso, desligue-se um pouco, procure estudar, ler, jogar, desenhar, orar, meditar, sair com a família, amigos, crush, levar o doguinho para passear, sair de alguns aplicativos, esfriar a cabeça, pensar com carinho e não tomar atitude com a cabeça quente porque o arrependimento vem…

2015 foi simplesmente o pior ano da minha vida. Muitas coisas ruins que estavam fora do meu controle aconteceram, todavia, tenho parcela de responsabilidade por conta das escolhas equivocadas que fiz, atitudes cometidas de cabeça quente. Acabei cancelando Simplesmente Tita porque pelo fato de 2013 ter terminado de forma próspera em matéria de escrita e eu ter iniciado 2014 bombando, comparei 2015 com o ano anterior e a sensação de frustração era muito grande porque eu sentia falta daquela época em que eu mal publicava um capítulo e já tinha vários comentários para responder porque mesmo quando eu ficava meio ausente, sempre aparecia alguém novo para eu receber e tudo fazia um absurdo sentido.

Pelo fato de escrever várias temporadas seguidas, num dado momento, percebi haver incoerências e algumas pontas soltas, nada que não pudesse ser resolvido com uma boa edição de texto, nada era tão irremediável, mas eu era MUITO imatura, ingrata e só fui de fato valorizar tudo de bom que tinha quando passei a receber ódio em vez de amor.

Num dia aleatório fiz um desabafo sem sentido no perfil do Nyah dizendo que iria deletar minha conta e nunca mais escreveria nada.

Algumas pessoas convenceram-me a ficar, esfriar a cabeça, mas volta e meia eu voltava com aquele discurso chato e insuportável, decepcionei pessoas queridas, afastei tantas outras, sinto profundo arrependimento e vergonha. Já vi histórias que ficaram meses e até anos sem atualizações e os leitores mais fiéis esperaram. Os verdadeiros esperariam. À época, meu sonho nem era publicar pela Intrínseca, era ser notada por algum embaixador do Nyah e isso parecia impossível, eu os tinha como referencial e então acreditava que minha escrita era horrível, esquecendo-me de que as pessoas que importavam eram aquelas que me deram o tempo delas aos meus trabalhos, e elas importavam. Só me dei conta do quanto quando as perdi.

Em um domingo depressivo, surtei e excluí todo aquele portfólio construído com tanto carinho e esforço. Fui acometida por uma maldição que me persegue desde então: NUNCA MAIS consegui ter sucesso com ST nem qualquer história minha.

Diria ao meu eu de 2015 que teria sido melhor procurar ajuda psicológica, pois a demora só agravaria o quadro de depressão, sairia um pouco das redes, cuidaria mais de mim, investiria na espiritualidade, em sair da bolha, às vezes é preciso retirar-me de cena, esfriar a cabecinha. Com certeza, teria me acalmado e apareceria algum leitor novo, outros poderiam voltar… não digo só pela fama conquistada… pessoas me seguiam, inspiravam-se no meu jeito de ser, me posicionar, ouviam/liam o que eu tinha a dizer… fui para o Wattpad ser peixe pequeno, a “flopada” que era zoada por gente escrota e nunca “aconteceu”.

Não há saída senão conviver com esse remorso pelo resto da vida, mas se não tivesse feito burrice e quebrado a cara, será que eu teria aprendido algo?

Conheço uma autora, por exemplo, que não é famosinha, mas já ganhou o The Wattys. Admiro-a porque ela vive para os sonhos dela, dedica-se de forma ímpar aos livros, entrega tudo bonitinho, faz a parte dela da melhor maneira possível e a vejo como uma inspiração. Com certeza, um dia essas obras serão publicadas e até adaptadas para o audiovisual, elas têm potencial e um público-cativo bem construído.

No fim das contas, se não houver amor, não se tem nada. E eu tinha amor por todas as minhas histórias, sendo elas rentáveis ou não. Muitas, muitas vezes eu me forcei a tentar escrever de um jeito que agradasse às editoras famosas, mas deixei de escrever de um modo que me agradasse.

Hoje, ao menos quando olho para os textos que escrevi, vejo-me neles de volta. E gosto disso. Mesmo que meu livro tenha ficado de fora da lista de finalistas do The Wattys, tem sido assim nos últimos sete anos.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 20/10/2023
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T7913269
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