O tempo dedicado

As pessoas têm se lamentado pela efemeridade, finitude e superficialidade das relações amorosas. O que faz sentido. Sempre fez. Não é de agora que as relações acabam precocemente. Isso sempre aconteceu. Mas agora parece mais comum, tem até sido banalizado, é como se nos surpreendêssemos quando alguém diz que está em um relacionamento há mais de dois anos! Não deveríamos nos surpreender. Não é o amor um dos mais nobres sentimentos? E um dos mais procurados pelos humanos? Então porque logo esfria, logo acaba, logo termina? Talvez porque nunca tenha sido realmente iniciado. Querem o amor, mas não querem amar. Querem o destino, mas não querem o caminho. Esquecem-se de que, para conhecer o amor, é antes necessário aprender a amar. O que envolve reflexões profundas, amadurecimento genuíno, um olhar profundo e curioso para dentro de si mesmo!

E muitas relações terminam pelo desinteresse. Pela falta de tentativa em mantê-las e sustentá-las. É difícil. Claro que é. E é desafiador. Com certeza! Mas a dedicação que oferecemos àquela relação diz o quanto nos importamos verdadeiramente com ela. Com o outro. Com o que dizemos procurar em nossas vidas. Porque é como se pensássemos que o amor acontecerá naturalmente, feito novela. Mas a vida não é uma novela. É realidade. E na realidade sempre precisamos lutar por aquilo que almejamos conquistar. Com o desejo de viver um amor não poderia ser diferente. O quanto você tem realmente amado?

E uma das maneiras de amar é dedicar tempo. Oferecer aquilo que, nos tempos de hoje, nesses tempos tão corridos e acelerados, talvez seja algo escasso, de um valor inestimável! Como li em um perfil no Instagram, “dedicar tempo a alguém é a parte mais bonita do afeto”*. Isso porque nosso tempo tem sido empregado a muitos afazeres, a muitas obrigações, a muitos compromissos. Reservar um tempo e dedicá-lo a alguém não seria uma ótima forma de demonstrar o nosso amor e a nossa intenção por fazê-lo acontecer?

Quando foi o último jantar com a pessoa que você diz amar? O último passeio no parque? A última conversa na praça? Quando foi o último abraço? O último beijo? Ou simplesmente o último momento que, em silêncio, sentindo apenas a companhia um do outro, vocês silenciaram o restante do mundo? Como tem sido a qualidade do tempo compartilhado? Aliás, há tempo sendo compartilhado? Ou a correria da vida tem apressado os abraços, acelerado os beijos, impedido as conversas, interrompido os jantares? O quão difícil tem sido desligar o mundo para que os laços que os unem sejam reforçados e fortalecidos? O quão trabalhoso tem sido amar?

Supervalorizamos o banal e “ultranegligenciamos” o superficial. Perdemos tempo com coisas que não nos garantirão a eternidade em nenhum coração, enquanto que poderíamos estar ganhando memórias com aqueles que, por simplesmente existirem, nos fazem mais felizes. Mas será que fazem realmente? Ou será que apenas falamos, da boca para fora? Porque acho que se nos importamos de verdade então procuramos formas de fazer valer esse sentimento. Dedicamo-nos com devoção e sinceridade. E esse é o problema. Muitas relações têm se pautado em ideais fracos demais. Aí a dedicação não acontece. Porque não vou perder tempo com algo no qual não acredito realmente. Você acredita no seu amor? A resposta talvez esteja no quanto você tem se dedicado por fazê-lo acontecer.

(*) Perfil @adeusverde

(Texto de @Amilton.Jnior)