Desenterrando corpos
Aqui estou eu, tentando lidar com luto de perder você... Mesmo você ainda estando vivo.
Perder você, foi como a morte de alguém querido, passando por todo o processo de perca.
Após tanto tempo, de tantas visitas ao túmulo, quis desenterrar tudo aquilo que enterrei de você,
Depois do luto
Da imensa tristeza
Do vazio
Do tempo
E você estava lá
Estava podre
Estava cheio de bicho
E mesmo assim, desenterrei você
Queria mostrar para todos quem era você
O que era realmente você!
Tentei alertar a todos o que caralho era você
Porém
Entretanto
Todavia
Esse corpo desenterrado era visto só por mim
Toda essa coisa podre, SÓ ERA VISTA POR MIM
É eu queria que mais alguém pudesse ver,
E ninguém via
E isso, esse corpo fora do túmulo mais fedia
Mais propagava o desconforto em mim
Me destruía dia a dia
Até o momento em que chegou a hora
Chegou o momento de enterrar
O momento de enterrar aquela dor que somente eu sentia
O luto em que só eu passaria
Na hora do enterro
Estava só
Estava eu e o corpo
E assim, com o corpo sobre o solo profundo
Comecei a enterrar
Sobre pás de terra e lágrimas
Enterrei tudo aquilo que era parte de você
Tudo aquilo que tinha você
É no fechar do túmulo
Ela chegou
Chegou ela que podia de certa forma sentir minha dor
E assim, lacramos todo o túmulo
Não deixando sair mais nada
Nada que trouxesse ele de volta
E assim foi feito...
Porém, ele não era o único corpo a ser enterrado
O cemitério estava completamente revirado
E aquele foi o primeiro a voltar para a seu lugar
Foi a dor mais incessante a perder seu lugar
É assim
Seguimos
Enfrentando e buscando formas de enterrar todos aqueles corpos que não têm mais lugar
Que não têm mais lugar na minha vida...
Um agradecimento em especial a minha psicóloga Mylla Bueno, obrigado por estar comigo nessa jornada! Obrigado por me guiar nos meus dias mais escuros e me acompanhar nos dias mais incríveis.