GERAÇÕES DOCE DE LEITE
De uns anos pra cá se popularizou os termos "nutella" e "raiz" para se referir a coisas ou pessoas moderninhas (de forma pejorativa) e tradicionais (no sentido virtuoso da palavra) respectivamente. Assim, o que é mais comum é vermos pessoas mais velhas se referirem às mais jovens como nutellas, mas se formos puxar arquivos e pensar direitinho, qual teria razão? Quais seriam as verdadeiras geração nutella e raiz?
Antes de mais nada, quero deixar bem claro que caráter é atemporal, ou seja, bons e maus seres humanos há e houve em todos os períodos da história, não a toa os dez mandamentos desceram do Monte Sinai como uma suprema constituição ética e moral divina há milênios para nos instruir e por isso não se sinta ofendido se a sua geração for uma destas que irei citar, até porque eu também me incluo em uma. Não sou ancião e nem infante, no momento em que escrevo isto sou um homem de quase quatro décadas de existência. Sem mais delongas vou explicar isso direito mais à frente.
O conflito de gerações, muito pelo contrário do que se pensa, não é nada contemporâneo, Sócrates e Hesíodo já observavam o mal comportamento dos mais jovens para com os mais velhos e a sociedade da época, e algo similar no início do século 19 também fora notado. Portanto, daí já se tira que não é algo que veio a surgir só agora nestes tempos, mas já existiu outrora, bem como momentos históricos que impulsionaram mudanças de diferentes hábitos nos filhos em comparação a seus pais e avós.
Na década de 20 do século passado, a Geração Grandiosa (nascidos de 1901 a 1927) comeu o pão que o diabo amassou enfrentando a pandemia da gripe espanhola e a Grande Depressão de 1929, sem falar que isso foi entre duas grandes guerras mundiais (uma pandemia seguida de grave crise financeira e tensão bélica com a iminência de um conflito em escala global, não soa bem familiar?). No entanto, seus filhos, a Geração Baby Boomer (nascidos após a segunda grande guerra até meados da década de 60) vivenciaram a prosperidade material de um mundo com a recém criada Organização das Nações Unidas e uma era muito mais pacífica após o trauma das bombas que a geração anterior viveu, com seus longos cabelos ouvindo Beatles e só desejando "paz e amor" e ser jovem para sempre. Eles tiveram problemas com outras coisas, óbvio, mas seguimos adiante.
Após eles veio a Geração X, nascidos entre a segunda metade da década de 60 e final de década de 70. Também conhecidos como "geração Coca-Cola" foram os primeiros a serem considerados "aborrecentes" e tidos como rebeldes. Já a Geração Y (sim, esta é a minha!) é quase como uma continuação da letra anterior, só que com seus rótulos ainda mais intensos. Acompanhamos a década de 90 como a última década majoritariamente analógica e influenciados somente pelo que passava na TV lá pelas tardes de domingo com a famigerada Banheira do Gugu e tudo aquilo que nossos pais e avós já ficavam horrorizados com os rumos que a nossa sociedade estava tomando. Por último veio a Geração Z, que são os nascidos nos últimos anos do século passado até o ano de 2010, nada mais nada menos que a juventude de hoje, bem digital, mas também bem "tik tok", e os que mais levaram a fama de "nutella", o que dispensa comentários. Mas será que os demais foram "raiz" mesmo?
Bom, com exceção dos grandiosos de cem anos atrás, as gerações posteriores cada qual teve seus altos e baixos e passaram por bruscas mudanças comportamentais e habituais na juventude e eis que vêm falar da meninada que hoje na flor da idade começa a se deparar com uma realidade semelhante de um século atrás. Será que não cheira a hipocrisia e arrogância?! Lembremos que antes da famosa marca de doce de avelã se tornar um sucesso de consumo, o doce de leite já fora mais popular. Acho que já deu pra entender do que estou dizendo.
Pois é, há um consenso entre muitos historiadores de que a história parece caminhar em ciclos que vão e voltam. A criança nascida após 2010, denominados Geração Alfa, aí está e já dá sinais de desejar uma vida menos virtual, mais sustentável, minimalista e saudável. Talvez fiquem novas e esperançosas raízes reiniciando um novo alfabeto geracional.