Algumas considerações sobre a minha filosofia _ 10
Nos prendemos a nossa idiossincrasia no intuito de nos fixarmos em algo, nos livrarmos da instabilidade que provém do conflito do ser (que é estando) com a imanência, que nos impõe a contingência. Dito de outra forma, só a experiência estética com algo que perdura "em" todo sofrimento ou ante toda "dissonância" nos levará à consciência moral, assim, a experiência com o sublime por razão vital; o fundo do posso ou o abismo nietzschiano torna-se o "dever ser", isto é, alinha-se ao propósito. O princípio teleológico é aquilo que por meio "daquele" nos leva onde devemos estar, ou melhor, leva tudo a sua causa final. O ser não pode "conter-se" em absolutidade em uma perspectiva, toda abordagem por definição é falibilista, pois faz uso recorrente (mesmo que não se assuma) de princípios ad hoc para chegar-se em conclusões "desejadas", isto é, aquela que mais se coaduna (por regras de derivação, dado as regras de formação, os operadores e o alfabeto da linguagem) ao conjunto de axiomas, aos corolários e aos teoremas de tal sistema. O negativo na filosofia implica em sua formalização "algo" para além da mera relação entre signo e significado, porém, o aspecto negativo na realidade não pode ser visto como meros acontecimentos ou fenômenos que são observados de formas pontuais, pois a realidade em si pressupõe completude, visto que, qualquer sistema que vise descrever a realidade deve ter com ela (o referente) uma relação de sobredeterminação. Assim sendo, não devemos falar de "relativismo" no sentido que a contingência só é um fato observado e inerente na natureza, assim como a nossa "razão insuficiente", mas no sentido que "o próprio aspecto negativo 'dado' na realidade implica em uma necessidade de assumi-la em sua totalidade como uma assunção epistemológica". É justamente nessa lógica que o ser manifesta-se em toda a realidade por meio da estruturação geométrica, que é justamente o aspecto da forma ou formal. A estrutura presente em tudo surge justamente da conformação da substância por meio da ordenação dos entes em torno de sua intenção. Assim, a vontade não é uma força caótica, no sentido que é irracional (concepção schopenhauriana), pois o irrealismo aqui surge justamente da incapacidade humana de apreender o todo, dado a própria incapacidade do juízo analítico sintético e a priori de "conceber" a coisa-em-si para além da ressignificação e reestruturação da percepção, que é a consciência no impresso. A essência das coisas ou a intenção original, portanto, reside para algo além do que é percebido na exterioridade, ou seja, para algo além do que é captado pelos nossos órgãos sensoriais. Isto é, está no âmbito do incognoscível ou no seio do todo-possível, ou melhor, de toda a possibilidade. O ser-algo, portanto, é categoricamente a classe que dá origem a todas as classes, fecundada pela intenção do ser, que por tautologia só pode partir de uma consciência. Sendo assim, concebo tal como Schelling uma origem não material e monista para a matéria, ou melhor, uma origem extra-material, mas tal como um princípio, o que é gerado é tal como o que gera, nunca o contrário (semelhante a primazia da consciência ou "Eu" ou do espírito absoluto em Fichte). Ou por outra, essa "cadeia de representações" trás por exclusão mútua a "dicotomia" entre conteúdo e forma, clivando a realidade da eidea. Destarte, o absoluto não é o caos, sequer um logos "castrado" do seu ser "puro ato", o logos aqui assume para além do que é classicamente concebido pelos gregos, ou o ser com o seu predicado in essentia em Santo Agostinho, uma natureza primordialmente de movimento. Me aproximo aqui um pouco mais das cinco vias de Tomás de Aquino ao conceber (assim como Schelling) o "absoluto" como sendo possível de "conhecer" (parcialmente) por meio de seus atributos. Dos quais um deles é o movimento. Também partilho de outras maneiras, como a causa eficiente, o possível e o necessário, mesmo que talvez de forma sui generis.
Não quero, com isso, imanentizar o eschaton ao considerar o aspecto do possível como determinante ou unicamente determinante no nosso fazer filosofia, pois filosofar implica considerar, muitas das vezes priorizar, o necessário em prol do que é meramente possível em nossas elucubrações teóricas. As constantes devem, pois, nos guiar em nossa aventura pela natureza humana. No que consiste, em última instância, ter o necessário como a geratriz ou a base geradora de toda a nossa trajetória. Digo, o possível concomitantemente com o movimento, que é a parte constitutiva da ideia ou do espírito, é o que origina a liberdade e a liberdade tudo o que existe. Assim, somente com a autoconsciência o sujeito põe-se em movimento e toma posse da sua liberdade. Mas essa liberdade, mesmo sendo uma invariante, é limitada a intenção que a originou, no sentido de que sua a existência (como um "ser livre/consciente") só é possível por causa de uma intenção (concepção idealista) que originou a matéria inorgânica, posteriormente orgânica e, por conseguinte, a consciência. Nos livramos, assim, da ideia de que a natureza é toda consciência (panteísmo) ou "necessariamente" contém parte do ser (panenteísmo), mesmo que isso seja deveras provável, ao menos por "dinamismo" (movimento). Então, sendo o aspecto ético e moral ainda subordinado a princípios universais, devemos, ainda assim, priorizar a consciência moral e a "experiência para além da simplória razão humana". Por outro lado, não implica que em nossa trajetória, o nosso caminho até essa experiência com a "supra-razão" não possa ser escrita em linhas tortas, assim, me aproximo aqui do fideísmo de Kierkegaard. Contudo, não quero com isso dizer que cada um de nós deve construir nossos templos e termos a nossa experiência com o sagrado, com a nossa própria verdade, principalmente se isso partir da aceitação do niilismo, como pensa Vattimo. A verdade, como está bem claro aqui, nunca deve ser tomada no âmbito do subjetivo ou adotada em uma perspectiva. Trata-se, pois, de perceber que a veritas continua sendo o absoluto, mesmo que devemos reinterpretar, ou melhor, reelaborar como se daria a nossa relação com ela e "ela" (o absoluto) com o mundo ("a manifestação" ou tudo). Dessarte, o vir-a-ser aqui é subordinado ao princípio teleológico. A autoconsciência sempre pressupõe (por inclinação ou naturalidade) o "dever-ser" e o dever-ser sempre é uma íntima relação entre o sujeito com suas idiossincrasias e o ser com a sua intenção primordial com respeito a tudo (princípio teleológico). Por fim, sobre a verdade, é sempre preferível uma abordagem sincrética, ao invés de uma "analítica" e específica, geralmente quando um sistema filosófico torna-se próximo de um sistema formal.