Nossas necessidades
Tendemos a desconsiderar nossos desconfortos. Ou, então, procuramos fugir deles sem resolvê-los verdadeiramente. Se estamos muito ansiosos, por exemplo, corremos a alguém que nos ofereça algum calmante. Se estamos sofrendo de insônia, então procuramos algum medicamento que simplesmente nos apague. Queremos resolver as coisas imediatamente. E sem ter que lidar com o incômodo de confrontá-las direta e sinceramente. Queremos apenas que as dores cessem, que os desprazeres desapareçam e que os desânimos deem lugar às euforias que tanto buscamos. E ignoramos o fato de que nossos desconfortos trazem alguma necessidade que não tem sido atendida. E talvez seja isso que temamos. Porque certas necessidades só podem ser atendidas por nós, através do nosso esforço em fazer diferente o que sempre fizemos de forma equivocada.
Qual é a necessidade por trás do seu desconforto? O que seu corpo, sua alma, o que seu organismo está lhe pedindo através dessa dor que o aflige? Necessidade de atenção? De companheirismo? De compreensão? Será que você está precisando de acolhimento? De respeito? De lealdade? Qual é o desejo latente por trás dessa dor que você tanto tenta ignorar? Essa postura é um erro, precisamos nos convencer disso. Porque de que adianta buscarmos por um alívio imediato aos desconfortos se as necessidades não são devidamente atendidas? Elas continuarão aí, implorando por serem satisfeitas. E enquanto não o forem, continuarão a nos incomodar.
O problema é que em muitos casos direcionamos ao outro a responsabilidade por nos suprir daquilo que estamos carentes. Às vezes não recebemos carinho quando crianças, então exigimos dos outros ao nosso redor que nos ofereça esse presente. Às vezes não pudemos ser tão livres e espontâneos em nossos primeiros anos, então exigimos que nos aceitem com nossas inconveniências e excessos enquanto nós mesmos estamos incapazes de nos aceitar e validar. Achamos que o atendimento de nossos desejos deve vir de fora, mas isso não é verdade. Nossos desejos são sentidos por nós, logo, atendê-los cabe apenas a nós.
Até porque somos adultos. E não precisamos mais nos espelhar na criança que um dia fomos. E me refiro à criança porque muitas de nossas necessidades estão abertas desde aquele tempo. E não foi porque nossos pais eram pessoas horríveis. Claro que não... Eles também tinham as suas próprias necessidades não satisfeitas... Então acabaram incapazes de nos atender em todos os nossos anseios. Mas o tempo passou. Você cresceu! Não precisa mais se reger pela voz de seus pais, de seu ambiente, das experiências que teve que viver. Você pode se permitir a novas coisas. Você é o seu mais absoluto cuidador. É quem pode se atender na medida do possível. Como é que você pode suprir as suas próprias necessidades sem mais pensar que é dos outros que a sua satisfação deve advir?
Eu sei que pensar por esse lado é complexo e complicado porque meu convite é para que você deixe a inércia e se torne ativo na história que procura viver. Mas esse desconforto também é necessário e também esconde uma necessidade: a de liberdade! Mas só seremos livres quando entendermos que não é do alheio que virá o nosso prazer ou a nossa felicidade, portanto, não precisamos nos condicionar a ele. Tais prazeres virão de nós mesmos, só precisamos olhar para dentro e, assim, despertar!
(Texto de @Amilton.Jnior)