Escrever e Pensar
Algumas coisas que escrevi...
Ou apenas pensei e não o fiz
Trazem do baú de lembranças
Momentos que um dia vivi.
Diferente das fotos que registram fatos
O fato aqui eu não o tenho como comprovar...
Nem sempre o que descrevo, provo!
Nossa alma inquieta tem dessas proezas.
Não sabemos mais se fomos nós
Que vivemos àquilo que contamos...
Ou apenas pensamos e escrevemos?
Passou-se conosco ou simplesmente lemos?
Quando se vive intensamente...quase sempre...
Temos este problema. Vivemos ou foi delírio?
Como segurar, nos livrar, expor o nosso martírio?
Quantas vezes temos uma idéia bonita...
Uma palavra, um verso e não o seguramos?
Deixamos passar como o vento, a brisa,
O sopro, o vôo de um pássaro que encanta?
Penso que não devemos ser rígidos...
Mas flexibilizar nossos sentimentos.
Apenas se deixar levar...contar, navegar...
Que estivemos nesse oceano para amar.
Sim! Amar por amar sem nada esperar
A não ser chegar noutros olhos e ficar...
Deixar que as palavras viajem para encontrar
O porto seguro, ou a ilha deserta doutro olhar.
Ótimo se achares que o que escrevo é certo...
Verdadeiro consolo para este aprendiz
Que sabe que o coração é a sua matriz...
Torço, rezo, sinto, escrevo para ser feliz.
Nada do que sai de mim tem carimbo...
Ou posso dizer que a autoria é só minha.
Daí a minha relutância em tornar meu verso
Como o de "reservados direitos"...
Que me perdoem os poetas verdadeiros...
Mas sinto que sou feito de fragmentos.
O que penso ou o que escrevo são partículas
Que me dizem que sou inautêntico.
Tudo eu roubei de mim mesmo...
Ou de vários sentimentos que
Povoaram à minha mente.
Sem a sua ajuda eu tão somente...
Naufragaria em apologia demente
Quero, preciso e busco a experiência...
Para dizer em versos essas vivências.
Se assim não fosse estaria incompleto.
Então de hoje em diante fica decretado
Que eu sou feito de muitos de vocês...
Que passaram e ficaram dentro de mim.
É bom dizer também que eu soube guardar
O que há de melhor dos sentimentos de cada um
Que escrevo agora para deixar como prova...
Do imenso amor que me devora.
Hildebrando Menezes