OMBRO E SILÊNCIO
Dava pra ver em seus olhos que algo não estava bem. Mas o que seria?
Ela não dizia nada e ainda afirmava que não tinha nada e que tudo estava indo muito bem.
O que seria então essa melancolia plantada em seu olhar?
Um olhar ausente, de quem se foi e esqueceu algo aqui.
Nem um sorriso, nem uma lágrima, apenas um silêncio ensurdecedor que me atingia e me causava desconforto.
Ofereci o ombro, o colo, ofereci palavras de conforto, mas nada do que fazia a tirava daquela introspecção.
Coloquei músicas, de todos ritmos e gêneros, nem por generosidade ela sorriu.
Então fiquei ao seu lado em silêncio, aquietei a alma, cerrei os olhos, os lábios embora úmidos, mas unidos, nem uma palavra. Só ouvia sua respiração leve e profunda.
Foi quando ela colocou a cabeça em meu peito e deixou as lágrimas caírem, sem temor, sem preconceito e sem explicação.
Continuei em silêncio, quieto e pensativo em tudo que se passava.
Foi quando ouvi sua voz doce e serena, a voz que eu gostava de ouvir.
Eu não precisava de palavras, gestos e nem músicas. Precisava simplesmente de um ombro silencioso que ouvisse o que o meu silêncio tinha a dizer.
Só então pude entender que as vezes precisamos sentar ao lado das pessoas e ficar em silêncio.
O silêncio é a linguagem de alma para alma, a linguagem do coração que não precisa de palavras.
Ela enxugou as lágrimas, me deu um forte abraço, um beijinho leve e silencioso.
Obrigado por me ouvir, era só isso que precisava. Tchau!
Eu só olhava, não tinha nada a dizer!
Tião Neiva