A libertadora dor do crescer
Não sei se é uma percepção apenas minha. Ou se é coisa de gente que pensa demais rs. Mas a verdade é que sinto que crescer dói. E assusta. É assustador você perceber que a sua vida é de responsabilidade inteiramente sua. E não me refiro apenas ao fato de ter que cumprir com as contas, comprar as próprias roupas e pagar as próprias consultas médicas. Isso é por si só angustiante, apesar de necessário. Refiro-me, principalmente, ao fato de que, enquanto vamos crescendo e, talvez, amadurecendo, começamos a entender que todas as pessoas erram. E que nós também erramos. E que, portanto, quando nos magoaram ou ofenderam, quando nos machucaram e feriram, talvez não estivessem necessariamente com essa intenção, talvez apenas tenham feito o melhor que poderiam fazer naquele momento, porque nós também machucamos e ferimos, nós também magoamos e ofendemos, mesmo quando tudo o que gostaríamos de fazer era ter acertado.
E isso é doloroso. É doloroso entender que nossas ações no mundo possuem consequências. Porque, enquanto crianças, ou mesmo adolescentes, e cometíamos algum erro, corríamos aos nossos pais. Eles davam um jeito de resolver as coisas. Se tínhamos brigado com um amiguinho, eles tentavam conversar e nos justificar. Se tínhamos algum desentendimento com algum namoradinho, então seu colo nos servia de acolhimento e refúgio. Mas, então, quando crescemos e nos tornamos um pouco mais velhos, nos vemos sozinhos em nossa responsabilidade de acertar em nossas relações, de concertar as coisas quando erramos mesmo quando tudo o que queríamos fazer era acertar, ou de acolher a nós mesmos diante de uma decepção. Contudo, diante disso, percebemos o quanto pode ser difícil o tal do “concertar as coisas”. Porque muitos estão cegados em seu próprio ego e não querem aceitar o nosso arrependimento ou, então, pelas profundas marcas que deixamos, sentem medo de confiar em nós novamente. É compreensível. Mas também incômodo. É difícil para nós aceitar o fato de que podemos ser extremamente cruéis.
No entanto, é exatamente o que podemos ser.
Podemos ser.
Não quer dizer que devemos.
E o crescimento, apesar de doloroso, é libertador no sentido de nos fazer compreender que temos total liberdade de escolha sobre o que fazer com a nossa vida. Eu sei... isso também é angustiante, porque nada é garantido nessa vida e nunca teremos certeza absoluta sobre quais serão as consequências de nossas decisões, mesmo as mais pensadas e refletidas. No entanto, é libertador. Se sei que sou capaz de causar dores, se assumo a responsabilidade pelo fato de que nem sempre o mundo está contra mim – na verdade o mundo nunca está, ou melhor, o mundo está nem aí para nós – e que, por isso, o que faço é porque decidi fazer, posso assumir a responsabilidade por agir de maneira mais saudável, mais reflexiva, menos reativa ou impulsiva.
Ao menos é o que tenho compreendido ao longo desses vinte e cinco anos de existência. E talvez eu esteja enganado, equivocado, iludido. Mas, de verdade, penso que não, algo dentro de mim diz que a vida que viverei está diretamente atrelada às escolhas que estou disposto a fazer e bancar. Escolhas que faço todos os dias. Escolhas que só podem ser funcionalmente tomadas se eu tiver consciência sobre mim, sobre os outros, sobre mundo e sobre como tudo isso se relaciona, sem viver no automático, sem simplesmente deixar que a vida me leve.
Isso é libertador. Apesar de doloroso. Sou livre para viver a vida que quero, embora tenha que conviver com a dor de que as escolhas, ao final do dia, me confrontarão com o fato de que fui eu quem as escolhi. Ainda que eu escolha deixar que escolham por mim. A escolha foi minha. Se o resultado for horrível, a responsabilidade também será minha. Resta a mim me questionar pelo que quero sofrer, caso tenha que sofrer: pelas minhas próprias escolhas ou pelas escolhas de terceiros aos quais dei o poder de decidir por mim?
(Texto de @Amilton.Jnior)