Um caminho a nós mesmos

Ao longo do caminho da vida podemos ser surpreendidos por alguns inesperados. Costumamos chamá-los de obstáculos e torcemos o nariz ao pensar neles. Porque entendemos que são atrasos, são desafios que apenas retardam o alcance de nossos verdadeiros objetivos. Essa é uma forma de pensar. Mas talvez pudéssemos mudar a maneira como olhamos para tais obstáculos e, ao invés de os entendermos como impedimentos, por que não os contemplar como possibilidades de amadurecimento e crescimento? Talvez possamos ver os obstáculos que se apresentam em nosso caminho como caminhos alternativos rumo a nós mesmos, ao nosso autoconhecimento e ao desenvolvimento de forças que precisamos cultivar para pela vida bem passar.

“O que impede a ação, favorece a ação; o que fica no caminho, torna-se o caminho” (Marco Aurélio)

Em outras palavras, a mensagem do estoico Marco Aurélio é bem resumida pelo título do livro de Ryan Holiday: “O obstáculo é o caminho”. Um caminho árduo, eu concordo. Um caminho que, por cuja complexidade, nem sempre gostaremos de trilhar. Um caminho, entretanto, extremamente necessário se quisermos alcançar nossa tal “melhor versão”. Uma versão que já é nossa, apesar de poder estar adormecida. Uma versão que guarda os nossos verdadeiros potenciais, até então ignorados. É uma mudança de olhar sobre a vida. Uma mudança de perspectiva sobre a nossa existência. Que exige de nós um esforço contra o comodismo de responsabilizarmos as dificuldades da vida pelas nossas mazelas. Uma mudança que nos torna autônomos e responsáveis pelo propósito que queremos viver.

Não que as dificuldades não existam e não sejam, em muitos casos, paralisantes. Mas em tantos outros elas apenas são usadas como desculpas para que não tenhamos que assumir que a vida que iremos viver depende diretamente das escolhas que estamos dispostos a fazer.

Talvez um trânsito engarrafado, que está atrasando a sua chegada para aquele importante compromisso, seja uma oportunidade para que você exercite a paciência, ou então disponha de alguns minutos para mandar mensagem àqueles amigos queridos, ou mesmo que possa comprar flores naquela floricultura que você tão bem conhece e pedir para que entreguem à pessoa amada. Talvez a insistência do nosso filho de oito anos por não ir à escola, a qual somos tentados a responder com tirania e autoritarismo, seja uma chance que a vida nos dá para lhe explicar que certos caminhos que vemos como desagradáveis são necessários para que possamos chegar aos caminhos sobre os quais realmente desejamos caminhar. Talvez as respostas ariscas da pessoa que dizemos amar, ao invés de serem correspondidas com ainda mais aspereza de nossa parte, seja uma oportunidade para que conversemos seriamente sobre nossa relação, entendamos o que temos feito e que não tem agradado e, assim, possamos conversar para que tudo se esclareça e os abismos não se transformem em precipícios que nos separem para sempre...

Percebe? Dificuldades sempre existirão. Obstáculos também. Mas a vida fica mais leve quando decidimos utilizar essas vivências para o nosso crescimento e desenvolvimento. É verdade que nem sempre teremos algo bom para tirar de alguma situação traumática ou catastrófica. Mas sempre que pudermos é importante que sigamos aquele antigo conselho que diz que não importa o que a vida faça conosco, importa o que faremos com isso! Se for muito difícil sozinho, procure ajuda.

(Texto de @Amilton.Jnior)