"O anti-herói"
O anti-herói percebeu que todos apenas se preocupam com os seus próprios interesses. Que todos se preocupam em apenas utilizar sua razão como instrumento para autoafirmação no mundo. Reforçando suas crenças e seus preconceitos, em suma, suas crenças ao moldar a realidade para corresponder a seus desejos. O humilde vulgo, todos, sem exceção, acham-se absolutamente fenomenais ou muito acima da média para ouvirem o que desfaz apoditicamente seu pequeno mundo de impressões e tratarem com o mesmo desdém que tratam os estudos. O mérito está em falar mais alto e ter mais influência, o louco é o sábio e o sábio é o idiota sobremaneiramente nesse mundo contemporâneo. Suas impressões são tão certas que ouvem tudo na mesma velocidade do emissor e julgam compreender o todo sem ter conferido a compreensão das partes; "portador" da fala desconexa é o juízo categórico que os dão. Sem sequer ter compreendido a dimensão do conceito que o vocábulo "louco" pressupõe para a sua compreensão. Os mais ignorantes são os que mais julgam os mais inteligentes, mal leem um livro por mês e se acham capazes de julgar teses e dissertações daqueles que leem no mínimo 10 livros por mês. É ridículo como a arrogância é julgada como humildade. É ridículo como a aparência tomou o lugar da essência e "ser" tornou-se sinônimo de "falsa prudência", que é aquela que se apega ao raciocínio mais raso e preguiçoso para afirmar-se mais uma vez no senso comum, "não é óbvio?" Quem disse que tudo o que parece é? Descartes já nos ensinou que os sentidos nos enganam por deveras. T. Reid ao menos argumentou e construiu todo um pensamento para justificar a verdade e a realidade como dada, mesmo tendo certeza que o seu "dado" ou de quem o segue (por experiência própria) não é o mesmo que o seu. Quem vós julgas "ser" são aqueles que dizem que não acompanha meu raciocínio, mas é muito mais fácil se prender a uma retórica e afirmar que está a adotar a navalha de Occam, mesmo sem saber que esse princípio de "economia do pensar" não pode ser tomado arbitrariamente dado toda e qualquer "teoria", pois está em relação de sobredeterminação com o referente por transitividade. Assim, se o objeto de investigação é deveras complexo, exige-se que a teoria também o seja, pois do contrário não haveria consonância. É a isso que dou o nome de pensamento preguiçoso, caro "doutor do Google". Eu sinto pena de vocês, mas ao mesmo tempo vos agradeço, pois é apenas graças a pessoas estúpidas e ou deveras narcísicas que voamos cada vez mais longe, superando a nós mesmos. O intimismo que vocês se apossam, assim como vosso egoísmo, nunca chegarão aos pés de nossa vontade e "subjetividade", que mesmo sendo determinante em nós (anti-heróis), não atrapalham o nosso "julgamento circunstancial", pois não temos absolutos (ideais) em nossos pensamentos, somos guiados apenas pela razão presente e pelo "desejo recorrente" de nos tornarmos maiores. A nossa valoração não depende do julgamento de terceiros ou de crítica barata, apenas os nossos objetivos importam, pois a moral é dos fortes e superar a si mesmo é a única coisa que resta em um mundo predominantemente "negativo". A contingência nos tomou, como a pulsão de morte toma a vida, dado a consciência. Somos seres conscientes e entendemos entre nós a profundidade de cada termo, mesmo tendo a "dissonância" dos que riem na caverna e se apegam às sombras de suas sensações. Nosso mundo é o abismo, pois é tudo o que há. O nada para nós é apenas matéria prima, pois sendo seres "do nada para o nada", alguma coisa sempre é menos absurdo e mais alguma coisa sempre é mais possível. Não há nada que possa nos parar, pois o que nos guia não é o desejo, é a vontade. O que nos guia não são as sensações e as percepções com suas representações, o que nos guia é a certeza de que o que é "dado" é "isso" e que o incognoscível é nada, pois sendo ininteligível, e não inteligível conforme Platão, a nós (no nosso referencial) é no mínimo impossível e, por consequência, inútil. Dito de outra forma, tudo o que nos é impossível, nos é desprezível, pois o humano é tudo o que captamos e abarcamos, isto é, objetivos, que se apresenta em potência e ato. A nossa causa final não é inerente a nós, é moldável ante a nossa significação de nós mesmos e do mundo. O humano, portanto, é tudo o que há, pois o nosso "relacionamento" com o mundo é de simbiose, ou por outra, é de bicondicionalidade. A significação nunca é do sujeito para o objeto, ou do objeto (a realidade) para o sujeito, semelhante ao período operacional-concreto, e sim do sujeito cognoscente se e somente se realidade impossível, isto é, aquilo que acontece ou aquilo que é como é. Visto que, as bases que sustentam o que denominamos de real são os acontecimentos, que são as coisas (como tal ou coisa em si) e como elas "interagem" circunstancialmente ou não, por concausa ou não. Ou seja, aquilo que não cessa de não se inscrever. Faz, portanto, dentro desta abordagem, também, parte da nossa própria constituição como sujeitos sujeito ao "real", ao inconsciente, àquilo que nos guia e que conhecemos apenas pelo "nome", ao nomeá-lo. Mesmo acreditando, por ora, que o fenômeno se desvela, optamos pela não alienação do "sujeito", que é sempre sujeito de "si mesmo", pela não ilusão da compreensão, que só a dimensão imaginária nos entrega, que só a ilusão da metafísica nos promete, que só a fé ingênua nos "revela" (epistemologia da revelação) e que só o otimismo inescrupuloso e a ideologia nos convence. Vos convoco, a tornar-se quem tu és, que é no processo contínuo e "infinito" enquanto há vida, para apenas, assim, compreenderes a profundidade do que digo, no intervalo aberto que é o nosso ser, por definição, em todas as suas dimensões. "Não" ser que é não ser, mas ser que não o é, pois está implícito no próprio ser o estar, este em função do tempo e, por conseguinte, do mundo. Por fim, o anti-herói é unicamente humano.