Conversa com a Lua
Tem dias que choro e choro como se quisesse transbordar.
O corpo faz força para reter todo esse líquido salgado que escorre pela face
como se fosse uma fraqueza que pudesse ser evitada
mas o corpo fala.
Fala e reclama e dá sinais nem sempre evidentes.
É a alma tentando se comunicar ou seria a mente?
Há uma semana estou perigando de ficar doente.
Primeiro uma ferida que demorou a cicatrizar, depois uma tosse crônica e agora a voz rouca.
O corpo não apenas fala e reclama
ele reivindica.
Tudo que não consigo expressar nem mesmo em escrita.
Tudo aquilo que eu nem sequer sei ou apenas acho que sei.
O dia está chegando ao fim. Hoje consigo ver a Lua da janela. Imagino um mundo de possibilidades.
Respiro fundo e volto para realidade.
- Deixa de ser sonhadora!
Digo para mim mesma, como se fosse possível controlar os sonhos. Eles nos movem mas muitas vezes também nos consomem.
Penso nas decisões que tenho que tomar, nas escolhas que tenho que fazer.
Essa rigidez que muitas vezes se impõe, de ser uma adulta, dona da minha vida. Dizem que neste momento temos o mundo nas mãos, mas muitas vezes ele me escapa.
Me permito deixar a racionalidade de lado por alguns instantes e converso com a Lua
como quando eu tinha dezenove anos e o mundo dos sonhos se impunha.
Mas agora é o contrário.
Contas, responsabilidades, busca de propósitos, trabalho, relacionamento, entes queridos ficando doentes, falecendo, crianças ao redor em pleno desenvolvimento
Tudo é muito urgente.
Mas tem coisas que acontecem que mexem com a gente
tão fundo que não conseguimos explicar, que não alcançamos
Tem um mundo dentro de mim virando de cabeça para baixo,
fazendo força para se reinventar
um mundo que não quer deixar os sonhos morrerem e que acredita no amor
e na superfície há alguém com tanto medo e com tantas feridas, que ela tenta de todas as formas fazer com que certas "verdades" que demorou anos para construir não desmoronem, pois ela não sabe como será mais uma vez ter que mudar e isso a apavora.
E o que eu falei para a Lua?
Me dê serenidade para discernir sonhos possíveis de meras fantasias.
Coragem eu tenho, só preciso entender qual caminho devo seguir.