Nossos eternos companheiros

É bem verdade que desejamos companhias eternas e constantes em nossas vidas. Imaginamos – e chegamos a nos emocionar com tais fantasias – como seria incrível se tivéssemos para sempre ao nosso lado aquelas pessoas que tanto amamos. Algumas delas são nossos parentes, fazem parte de nossa família, estão conectadas a nós pelo laço familiar. Outras, no entanto, apesar de não terem essa natural conexão conosco, foram intimamente ligadas a nós pelos caminhos da vida: as chamamos de nossos amigos! Então uma vida eterna com essas pessoas queridas não seria nada mal, é verdade. Teríamos tantos e infindáveis momentos de diversão, de conversas profundas, de momentos eternamente inesquecíveis...

A questão é que somos finitos. Temos um tempo. Temos o tempo de chegar, temos o tempo que por aqui passaremos e temos o tempo de darmos adeus à nossa existência, fazermos a travessia, deixarmos esse mundo. É inerente à condição humana o fato de que ela termina. Partiremos. Partirão. Enfim, para todos nós a vida terá algum desfecho. Então não poderemos contar que as pessoas que amamos ficarão eternamente ao nosso lado. Porque não é possível. Mesmo que quisessem, elas não poderiam. Assim como nós também não poderemos ser eternos companheiros àqueles que tanto estimamos, àqueles que de bom grado abriram seus corações para que neles construíssemos nossas moradas.

No entanto, há outro fato. Esse não percebemos. Acho que ignoramos. Mas precisamos trazê-lo à consciência, porque talvez isso mude a forma como viveremos nossas vidas, transforme a maneira pela qual passaremos pela vida, mude o jeito como nossa história será contada. Ao passo que aqueles que amamos não poderão estar ao nosso lado constantemente por toda a eternidade, nós somos os nossos eternos companheiros. Você estará com você até o seu último suspiro de vida. E caso, por condições de saúde, faça a travessia isolado em uma UTI, lá estará você, acompanhando a si próprio, oferecendo acolhimento a si próprio, tentando acalmar a si próprio – isto é, se tiver, ao longo da vida, desenvolvida uma relação amorosa consigo mesmo. Porque é assim que a vida funciona. Não poderemos contar com a companhia interminável das pessoas queridas. Mas sempre estaremos lá conosco mesmos, desejemos ou não.

Infelizmente, contudo, tratamo-nos com desdém e menosprezo. Não entendemos que somos os nossos mais íntimos e duradouros parceiros. Não cuidamos para que o amor próprio seja desenvolvido dia após dia. Talvez exista vida após a morte. E você já parou para pensar que existe a possibilidade de que você tenha que viver consigo mesmo por toda a eternidade? Como seria o reencontro. Se no paraíso, quando a eternidade começasse, você se reencontrasse, torceria o nariz? Ou abriria um largo e genuíno sorriso de felicidade quando se reconhecesse? Como anda sua relação consigo mesmo?

Muitas vezes desacreditamos de nossos potenciais. Fazemos por menos o nosso esforço. Não somos capazes de valorizar a nossa importância. Não somos capazes de entender que precisamos nos amar antes de qualquer coisa porque somos os únicos responsáveis pela história que queremos escrever. Fazemos críticas ferozes contra nós mesmos. Fazemos uma autoavaliação sempre injusta e irreal quanto às nossas capacidades. Aos outros procuramos palavras serenas. Mas a nós concedemos os mais duros discursos.

Ame-se. Cuide-se. Proteja-se. Cure-se. Perdoe-se. Pegue leve consigo mesmo! Desenvolva uma relação harmoniosa com a sua própria existência. E nunca se esqueça de que, se a eternidade acontecer, lá estará você novamente – que esse possível reencontro seja como aqueles que vivemos quando, depois de tantos anos, reencontramos os nossos amores. Seja a si mesmo o principal desses amores!

(Texto de @Amilton.Jnior)