Acrescentar

Não podemos delegar a nossa felicidade, a nossa realização ou a nossa completude. Entretanto, é exatamente o que fazemos. Sobretudo no sentido romântico, quando esperamos pela nossa outra metade, pela parte que acreditamos nos faltar, pela pessoa que, em nossas crenças, muitas advindas dos tempos infantis, nos preencherá e espantará para longe todo o vazio que sentimos. Isso é ilógico, irracional e perigoso. Muitos vivem relacionamentos imaturos e conturbados por não entenderem que assim como nós não somos responsáveis pelo bem-estar ou pela alegria de alguém, ele também não pode ser responsabilizado pela nossa satisfação. O vazio que sentimos somente nós podemos preencher com um pouco mais de nossa própria presença.

“Ninguém completa ninguém. As pessoas se acrescentam” (Alexandro Gruber)

Porque quando estamos completos – por nós mesmos –, não vemos o outro como ele não é, mas como ele realmente pode nos ser: uma companhia, uma parceria, não uma sombra ou um amuleto que, uma vez perdido, nos deixará em desespero. Porque muitos insistem em relações que já acabaram, pois não entenderam que a completude que esperam do outro depende apenas de si próprios. Não conseguem se desvencilhar por sentirem-se aprisionados a alguém que tanto idealizaram como a parte que lhes faltava. Portanto, se tal alguém partir, é como se estivesse levando consigo um braço, uma perna, ou mesmo o nosso coração. Isso porque erramos ao colocar no outro a fantasia de que ele deveria nos completar e inteirar. A imatura fantasia alimentada pela nossa sensação de desamparo e abandono: ausentes de nós mesmos, como poderíamos nos sentir diferentes?

Ao contrário, aquele que se preenche, que reconhece a responsabilidade que possui ao se completar, ao se bastar, vê o outro como ele de fato é: uma possibilidade de acrescentar na vida. Inteiros não se completam, porque não precisam disso. Mas se acrescentam e, assim, juntos, dão novos sentidos à vida, passam a contemplar novas paisagens, somam ao invés de substituir, juntam ao invés de sobrepor. Andam no mesmo nível. Não esperam coisas altivas demais. Nem delegam responsabilidades. Vivem os momentos. E passam pela experiência enquanto ela lhes fizer sentido. Talvez esse sentido dure cinco anos, ou então vinte, ou persista por toda uma vida. Mas quando tiver que acabar, quando tiver oferecido tudo o que tinha a oferecer, simplesmente será encerrado com o senso de gratidão e agradecimento, sem ressentimentos ou desesperos: sem a sensação de que houve uma mutilação. Isso porque ninguém preencheu o vazio de ninguém. Apenas se acrescentaram enquanto tinham o que acrescentar.

Não... Esse não é um convite para que você se torne autossuficiente. Acho que isso nem existe, porque, em certa medida, sempre dependeremos de nossas trocas com as outras pessoas. É um convite para que você se conheça e se complete. E, então, evite a dor de buscar completude no alheio, pois, por um período talvez ele o complete, e o faça se sentir completo, mas e quando ele precisar partir? Ou e quando você sentir que precisa de um novo lugar? Irá se manter aprisionado? Complete-se e preencha-se. E, então, acrescente ao mundo!

(Texto de @Amilton.Jnior)