A arte de não pertencer!
A arte de estudar as religiões, conhecê-las, ter pessoas ao redor que te convertam, mas acreditar na sua própria espiritualidade e sentir a arte de não pertencer.
Admirar filósofos, poesias, ter sonhado em abraçar Clarice Lispector, viajar em pensamentos e discordâncias da efemeridade da vida e mesmo assim não pertencer.
Ter a liberdade de viver uma vida sexual diversa, com riscos e aventuras, mas não pertencer.
Poder se render a carência da cantada barata e furada, e por um instante se sentir desajada e falsamente amada. Mas, não! Não pertencer!
Não se incomodar com a sexualidade alheia, descobrir sua sexualidade com a maturidade e mesmo assim, não pertencer.
Não ter um grupo de amigos únicos , não ter grupo de hobbies, ter hobbies individuais, não ter grupo no trabalho, não ter grupo de vizinhos, não ter grupos a agradar e sentir a arte de ser livre e não pertencer.
Não sonhar em ter filhos ou gastar dinheito com uma festa de casamento, sendo assim uma aberração no meio feminino.
O que não me torna uma absoluta egoísta seja o fato de estar sempre disponível a ouvir e ajudar conhecidos e amigos aflitos de um ouvido amigo. Mas mesmo assim não pertencer a vida deles.
Não pertencer a nada que te prenda, que te tire o poder de escolha, como ir embora no meio da festa, de recusar o prato predileto, de poder ouvir na solidão do quarto, qualquer música que lembre um momento único.
Não pertencer a busca pela estética perfeita, aceitar minhas gordurinhas, minhas linhas de expressão, o cabelo que não é liso. E assim, não pertencer.
Qual a dor e alegria de não pertencer?
O que seria pertencer a algo ou alguém?
Qual a dor?
Qual a alegria?
Sigo caminhando na arte de pertencer a mim. A arte de pertencer a meus sonhos, gostos, manias, neuroses. Pertencendo e conhecendo a mim.
Me vem a memória Mário Quintana que escreveu :
"Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas."