Ouvinte
O temporal reinou sobre mim por mais tempo do que o normal. As nuvens estavam feridas demais.
Atravessei sob os trovões, indignado por esquecer de olhar as previsões, cansado por ter que carregar o peso das monções, impaciente por esperar o clima se transformar enquanto manipulava as minhas sensações.
Não havia abrigo. Precisei receber todas as gotas. Assistir a todos os relâmpagos. Ouvir os cantos que ocoavam dos céus e engolir a água reciclada evaporada das contaminações de um oceano cruel.
Parecia que não havia fim, como se sempre estivesse chovendo dentro de mim. Mas passou, acabou.
O sol iluminou a minha concentração. A brisa contemplou minha respiração. A água clareou minha visão. O silêncio abraçou minha audição e o tempo conduziu minha recuperação.
Agora, não há tempestade que me cause surpresa. Estou me afastando dessas regiões, movendo meu estado reduzido para outro canto da mesa, longe de onde não há equivalência, perto de onde possa confortar minha existência.