Nada

Ouça meu lamento abafado. Sinta minha angústia dessa noite. Apenas sinta o que sou agora.

Já não estou a desaguar, embora esteja em prantos. Olhe em meus olhos, estou a chorar. Ouça meu silêncio, estou a gritar. Olhe meu movimento, vou desmoronar.

Me cole com as lágrimas, me refaça dos escombros. Componha a melodia do pranto e me perfume de dor. É tudo do que me desfiz.

Ouça o que já não falo. Veja o que já não visto. Sinta o que já não sou. Me refaça do que me desfiz, pois é tudo o que sou.

Só não me seja desamparo, mesmo eu sendo solitude. Me refaça solitária, mas não me entregue a solidão. Me refaça do zero e me preencha de unidades.

Me faça infinito num tempo finito que nasce e morre e morre e nasce.

Me rasgue e me remende. Me circule, me preencha. Mergulhe no meu vazio.

Eu sou nada. Escute, veja, sinta. Nada.

maria paula da silva lima
Enviado por maria paula da silva lima em 01/09/2023
Código do texto: T7875161
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.