Apesar da luz

Aqui em casa troquei os pequenos lustres, peças de vidro que formavam um prato no teto, cobrindo as lâmpadas mas deixando aberturas nas laterais. À noite os insetos procuravam a luz e acabavam presos dentro da cuia. Se debatiam cegos até morrerem silenciosamente carbonizados. Numa manhã, quando percebi, os pratos de teto estavam cheios de cinzas, restos mortais de seres que encontraram o fim ao tocar o sol. Me senti responsável pela demora de perceber e tomar parte naquela carnificina. Mas não posso sucumbir à culpa, preciso seguir. A vida segue, apesar das tragédias.