O Execrável Monólogo Noturno

As páginas em branco riem de minha cara de tacho perante a tinta, revoltado pela falta de inspiração. Não bastasse a pouca criatividade, me ponho a rascunhar um relato sobre o fato, como tantos o fizeram.

Me queima o fogo do ódio. De nada em especial além do vazio. Vozes silenciosas acompanham o fluxo mental, tentando desviar o foco da mente espiralada, que se esforça para se manter inerte perante o turbilhão de sentimentos.

Carbonato de lítio, o culpado. Ou melhor, a falta do mesmo, que há anos corrói minhas entranhas, provocando refluxos constantes. Não que estivesse muito regular no meu sistema, mas reajo – da forma fria de sempre – à ausência da dosagem da manhã.

Não que haja algo de errado. Tudo tem andado de acordo com o planejado, excluindo os devaneios irreais. Talvez estes últimos impactem meu humor mais do que meu consciente gostaria de admitir.

Odeio pensar na adolescência. Quando jovem, após a morte de meu avô, me tornei incapaz de chorar, e apenas fui recuperar tal liberdade quando crescido. Mas assuntos das épocas de escola ainda travam as lagrimas que lavariam as feridas abertas, há tanto purulentas pelos maus cuidados. Feridas ignoradas em cada processo de sua existência, por medo que, se olhadas, doeriam mais.

São tantos assuntos e memórias puxadas muitas vezes por um pequeno detalhe no cotidiano, uma canção nostálgica, uma coincidência sincronística. Talvez eu esteja obcecado, mas não sei exatamente pelo quê. Isto que chamam de medo de crescer? Ou o termo é autossabotagem? Talvez ambos.

“Todo desejo é sofrimento”

“Todo desejo é sofrimento”

“Todo desejo é sofrimento”

Os ecos dos sinos mantricos pessoais ressoam.

“Todo desejo é sofrimento”

Aqueles olhos.

“Todo desejo é sofrimento”

Aqueles malditos olhos

Ariel Alves
Enviado por Ariel Alves em 25/08/2023
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