O bode emissário

Sabemos que "Deus fez", caros irmãos. Que o mal não a de ser toda a angústia que sentimos, pois a existência é o presente do livre arbítrio. Sois, homem, aquilo que por definição é corruptível, mas haverá o nome de apagar a existência? Se o que fazes não és, assim, não partilham da mesma natureza que a tua e, por conseguinte, morrerás sem saber o que é ser algo além de bode expiatório e as tuas asas serão guiadas por um autocrata sádico, sedento de tua liberdade. Ah o que fizeste, homem já não mais livre, espias agora a porta do "paraíso", como se ser fosse se conter e se definir na restrição, restrição esta promulgada por um maestro "barrocamente" "desejante", ao ponto de moldar o mundo para caber em seu "imaginário" e se distanciar no feito de sua "esquizofrenia" conceptualista. Eu quero, pois, agora pôr em escrita toda a minha ira e ser categórico ao afirmar que ser é estar em si mesmo enquanto há tempo. Sem invocar aqui os juízos sintéticos a priori, e sim _ quero tomar posse e que tu faças o mesmo _ dos juízos analíticos a posteriori. Pois não tem em mim e em tu nada que seja inato per se, apenas uma conclusão dúbia e precipitada de um conglomerado de percepções não interpretadas ou mal interpretadas. Percepções essas, meus irmãos, para além da mera recepção dos nossos órgãos sensoriais, percepção estas internas dos nossos próprios processos cognitivos. As variáveis não são muitas, ao contrário do que pensava Hull, pois o nosso cérebro é o principal, senão, o único responsável por "criar" o nosso mundo. Não se trata aqui, irmãos, de um solipsismo tonto, mas de uma ancoragem, a de saber que ser não é outra coisa que não "ter momentaneamente". Assim, Azael e Azazel são a mesma coisa, trata-se aqui de dois seres "demagogicamente" e "sofisticamente" posto como antagonistas ou como conceitos contraditórios. A antítese aqui é inexistente, sequer há uma dicotomia. Dito de outra forma, um é aquele que assume a "repressão" e a "censura" como norte de sua vida moralmente regrada e virtuosa, cuja virtude é fruto de um hábito deveras danoso ao espírito espirituoso. E aonde chega-se com tamanho desdém daqueles que confundem o perdão com o esquecimento e o "crime" com a transgressão em relação a um caminho em linha reta, que inexiste para além de um encéfalo sedento por "significados". Os motivos não serão dados na causa final, pois a finalidade da coisa ou do objeto existe ao pressupor uma relação entre o nosso logos e o do mundo. Onde essa proposição ou suposição é assumida para construir-se uma epistemologia segura.

Contudo, não há em mim e nem em vós algo tão seguro que possamos nos apoiar, estamos caindo ou sendo nisso? Ao menos podemos supor que o referencial que assumimos é o mais confiável; o tempo, o movimento, o contato, tudo existe "em uma perspectiva". [...] Olhar é pôr em "forma e essência" tudo o que se ver. E "ver" não é outra coisa que "estar". Construímo-nos em tudo à medida que estamos e estamos à medida que suspendemos os juízos e as crenças. "Ser em tudo" é não estar em nada além do que "em você". Isso implica, com as coisas ou a coisa que te agrada e te significa a medida que vós a significa (objeto a). Digo, os instantes que te definem são eternos e nessa "eternidade" serás forte e grande, como uma montanha que pouquíssimos tiveram a tamanha honra de escalá-la. Tu mesmo serás _ e apenas tu _ o encarregado de tua missão e isso compreende as tuas falhas, aquelas que realmente julgas ter. A tua "purificação" será em não a ter e o seu regozijo o contemplar que a aletheia é o "ser para si mesmo fenomenológico".

~ Ens est sibi ipsi phaenomenologice.

Darach
Enviado por Darach em 23/08/2023
Código do texto: T7868720
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