POR FALAR DE PAI

POR FALAR DE PAI

Eu estava morando em Salvador, por força de compromissos profissionais. Ele em Santos, nossa terra. Há algum tempo não o via e a saudade era grande. Por conta de uma reunião em São Paulo, numa sexta, resolvi que ia lhe fazer uma surpresa, um almoço, entre pai e filho, em companhia da esposa e neta. Encerrada a reunião, desci a serra para encontrar esposa e filhos, que lá já estavam, e ir reencontrar o velho para almoçarmos no dia seguinte. Quando cheguei, fui informado por minha esposa, que ele havia sido internado por conta de uma embolia e que visitas estavam liberadas na manhã de sábado. Fiquei apreensivo, mas como ele sempre tivera saúde não entrei em pânico. Na manhã seguinte, dirigi-me à Santa Casa de Santos para visitá-lo e quem sabe curtir sua alta. Após cumprir os procedimentos para acessar a visita, dirigi-me ao quarto em que estava. A cama estava vazia e bem arrumada, aguardei alguns instantes e como ninguém aparecia, fui ao balcão daquele andar, para saber de seu paradeiro. Imaginei que tivesse ido ao banheiro ou realizar algum procedimento.

Perguntei por ele e a enfermeira me perguntou o que eu era dele. Ela solenemente, após alguns segundos, consternada, disse, seu pai entrou em óbito. Fiquei paralisado e não consegui me mover ou reagir, parecia um conto absurdo, não consegui balbuciar qualquer palavra ou ter qualquer reação. Desci catatônico para levar a notícia à esposa. Fui vê-lo, já sem vida, até hoje não consigo atinar como suportei aquele momento. Esperava encontrá-lo, vivaz como sempre, matar a saudade, abraçá-lo como nunca, encontrei-o sem vida. Até hoje, ainda há uma dor perene que se exacerba a cada dia dos pais. Para aplacá-la, lembro dele em vida, como um pai carinhoso, alegre e cheio de amor pelo filho, que teve a suprema dádiva de tê-lo como pai. Como eu o amava e continuo amando, mesmo na sentida e sofrida ausência.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 11/08/2023
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