Uma Bula
A bula de meu novo remédio traz informações simpáticas dos efeitos favoráveis sobre um certo número de transtornos referentes ao pensamento, às emoções, e atividades como confusão, distúrbios da percepção, desconfiança incomum. Isto está em 10% da longuíssima bula. Aquele impresso que acompanha o medicamento.
A bula de meu remédio novo tem 80 centímetros de comprimento, como metade de um sofá de dois lugares.
Há muita esperança que ao olhar para A e para uma situação, minha mente não transforme o emissor A em emissor de sinais B, e, a situação real permaneça sob meu entendimento. Sair das interações sob os fatos, sem elucubrar nada, será excelente. Obviamente o prejuízo maior nas confusões é meu. A qualidade das relações humanas pode ser sofrível, o que explica a vontade de se isolar da sociedade e manter-se introvertida.
Toda vez que imaginava as pessoas reprováveis,ignorantes ou egoístas gostava do isolamento. Quando me senti mal recebida idem. A introspecção pode ser interessante. O que pensa uma pessoa que examina o próprio intimo? Enfim, somos Primatas, sinto falta de pessoas.
Além das promessas de meu novo remédio, há os outros 90% da bula. Em letras minúsculas se pode ler toda sorte de contraindicações ou riscos e perigos, com efeitos adversos incluindo todos os órgãos e sistemas do corpo.
No entanto, somente fui à bula desta vez porque tenho tomado o remédio e de fato me sinto bem.
Então por prudência vou guardar a bula e procurar esquecer os 90% dela, de forma a não entrar em confusão , baixa percepção e desconfiança do fármaco. (sic)
Assim como na bula de um medicamento, onde se olha tudo ou só se lê o que interessa, a vida também tem essas possibilidades. Se se olha tudo sem deixar passar nada, pode ser muito. Mas, o quanto olhar para nao exagerar, para se proteger , e não perder a confiança e o sabor de viver? Hoje li somente as indicações.
Você chegou tão tarde remédio!
Bom, antes tarde do que nunca.