A arte e suas formas

"...a função da arte consiste em tornar a ideia acessível à nossa contemplação..."

Quando li essa frase, me encantei com o que ela não dizia, mas sugeria. A própria frase, se nos detivermos no que ela sugere sobre a função da arte, " tornar a ideia acessível a nossa contemplação", isto é, nos levar a uma outra possibilidade de conexão do real com o ideal, a própria frase, quando disposta e despida do que expressa nos vocábulos empregados, a própria sentença é em si uma obra de Arte. Afinal, ao não dizer o que é, a frase, a respeito da função primeira da arte, também não se traduz no que se quer dizer. A frase, através do pensamento, o que ela sugere sobre a Arte, nos conduz à contemplação dos seus vocábulos e, nesse sentido, faz com que nos detenhamos em cada termo utilizado. Igualmente, a Arte, e aqui penso na arte da pintura, só atinge esse status quando posta e exposta à observação de alguém. A pintura, ou, o quadro, a paisagem, o objeto, que ela reproduz, nada será se nos detivermos

apenas nas tintas utilizadas. Pensar na tinta destituída da sua composição com outras tintas e cores utilizadas, nada dirá, para nossa contemplação (no espírito, que contempla); tudo será apenas tintas e cores. A imagem só terá algum significado, ou sentido, se se observada no seu conjunto. É o conjunto que qualifica a obra de arte, associado, à contemplação que nos conduz, desse conjunto, temos o quadro, propriamente dito. Da mesma maneira a frase solta, sem relação com nenhuma outra palavra, nada dirá, pois, tal qual o cardume que só existe pela união dos peixes, a frase só terá conteúdo discursivo quando enunciada unida às outras palavras. A frase só adquire significado de sentença se lida na composição de cada palavra, caso contrário, será só palavra existente somente em seu conteúdo.

Do que se disse, se depreende, que a frase " a função da arte consiste em tornar a ideia acessível à nossa contemplação...", é, ela em si, uma expressão da arte, pois, ao nos conduzir a pensar no seu significado, nos leva, igualmente, à contemplação, ato, ou estado, de estar tomado por algo externo mas que nos prende e apreende pelo espírito.