O homem está morto

Só o cotidiano a te esmagar continuamente com a indiferença dos asnos ante a face do abismo pode em ato te machucar. E o mesmo ignóbil cotidiano pode um dia vim a te libertar da inevitável dor e angústia. Apenas aqueles que pensam e sabem que o pensar é a maior das virtudes, pode um dia vim a saborear a completude na irrealidade que é tudo, pois em tudo faz-se e destrói. A indiferença do hábito, que é a constância das ações daqueles que lhe oferecem dia após dia, pode te levar a consciência da irrealidade. Assim, sabendo que tudo jaz irrealidade, saberás, por conseguinte, que as ideias são per se neutras. Há de saber, pois, um dia que tudo é uma condenação ao degredo e a derrota. Que a maior conjunção da vida é: consciência & dor. Sabendo disso, saberás que nada faz sentido, ou seja, nada há de ser perseguido, não há caminho, não há verdade. Eu entrego a tu, homem, apenas a palavra de muitos que aqui já passaram, como o "pequeníssimo" Cioran. Foste pequeníssimo na vossa grandiosíssima consciência e eternizou-se, inutilmente, enquanto há humano e enquanto há terra. Haverá de ser os trans-humanos infinitamente inúteis em suas estupidez e haverá o "sábio" trágico de pôr fim a isso tudo, a esta "infinita estupidez". Me refiro a de querer "ser". Me refiro a de querer saber, como se houvesse algo a saber. A de querer vencer, como se vencer fosse prolongar ou eternizar esta inútil vida. Malogrado será meu caixão e as lágrimas que para "mim" cairão, pois não ousei crer e como assim o fiz, não ousei viver um absurdo. Sou, diferentemente de Camus, um pilantra e um falastrão, pois não pretendo dar respostas e não pretendo transmitir em linhas que não tortas a podridão que é o mundo. Porcos vós que me leem, saibam que quem está a vos falar não é um homem, mas uma dinamite a explodir cabeças de acéfalos e mestre de nenhum caminho daqueles que pensam. Sou o abismo e a escuridão, a perdição de quem me abomina e a tolerância dos intoleráveis, a paixão dos infiéis e a confiança dos loucos. Saibas que serei por ventura um dia, alguém que ousaram "acreditar". Mas não sendo bobo, desmentirei a minha própria vaidade e a jogarei no lugar de todos os lugares, no nada do despropósito e desamparo. Sou como Nietzsche um guia de vetores nulos, pois entenda que a cada tese posta há em mim um vetor oposto. E a cada verso uma lágrimas de despedida. Sou a escuridão de uma biblioteca cinza, empoeirada e sozinha. A escuridão de uma alma transtornada desde cedo com o pecado do nada e do tempo. Tempo presente este a apontar para o passado e o futuro, futuro este incerto a apontar para o passado, que é o meu presente e será o meu pretérito imperfeito. A finalidade da minha escrita é pôr defeitos aonde só veem, por exemplo, Sartre. Ah nuances, nuances. O ser humano esquece que pensar é desfazer-se e desfazer-se é "ser-se-nada". Ah como queria pôr em escrita, mas eu morro e a cada grito abafado eu tolero mais um pouco a mesquinhez e a "grandeza". Grandeza esta que põe fim a tudo o que é humano.

~ Magnitudo rebus humanis finem imponit.

Darach
Enviado por Darach em 09/08/2023
Reeditado em 09/08/2023
Código do texto: T7857513
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