Sobre a culpa e o remorso
Incomoda-me moderadamente certa tez pós-moderna de reduzir todos os atos da vida ao seu viés de aprendizado, ou seja, de que tudo foi válido pois serviu para uma pseudo evolução moral. Não quero com isso dizer que não se pode tirar lição das intempéries da vida, pelo contrário, é até desejável que se faça isso. Todavia, o que tenho observado é que isto tem se tornado uma frase de efeito, e como quase toda frase de efeito, vazia e sem efeito. Mais do que isso, tem servido para ameninar fatores que se exacerbados podem destruir e estagnar o ser humano: a culpa, o remorso.
A culpa excessiva, a autocobrança excessiva, o remorso que não sara; são elementos malignos à psique humana. Nos tornam escravos da insegurança e em geral extremamente dependentes de validação externa, que mesmo assim nunca será suficiente. Contudo, e este é o ponto que quero chegar, o extermínio por completo destes sentimentos a fim de enlatá-los como puro e simples aprendizado, nos tornam irresponsáveis perante nossas ações e as consequências delas.
Ora, se cometi um ato falho, de má índole, que feriu os sentimentos de outrem e que eu sabia de antemão que era errôneo, que não era correto e mesmo assim o fiz; ou se julguei mal alguma situação e me excedi, ou fui apático, ou fui desmedido, ou fui imprudente; seria benéfico a mim escantear minha culpa e simplesmente dizer: serviu de aprendizado? Ou mesmo o inverso disso, seria sábio e prudente esconder a dor duma decepção neste mesmo lago do “serviu de aprendizado”?
Conseguimos mudar nossas atitudes nocivas sem sentir a dor de suas consequências? Sem o remorso de nossos momentos de covardia? Há arrependimento sincero sem dor?
A culpa em demasia mata o ser humano, mas a ausência dela não nos permite tornar-nos humanos.