Viagem de descobertas

Às vezes nos sentimos entediados diante da vida. Seja porque nos sentimos sempre os mesmos, como se não saíssemos do lugar, como se o tempo, para nós, simplesmente tivesse estacionado. Ou então é como se o mundo não mudasse, é como se as conversas fossem sempre as mesmas, é como se os assuntos se repetissem interminavelmente, como um disco quebrado que insiste no mesmo trecho várias e várias vezes. Queremos coisas novas. Queremos ser alguém novo ou conhecer paisagens novas. Como se o novo fosse o único responsável por nos retirar do marasmo no qual nos encontramos. Não nos damos conta de que talvez o novo já tenha acontecido. Ou esteja acontecendo. Bem diante dos nossos olhos. Olhos estes que, ironicamente, continuam do mesmo jeito, não se alteraram, continuam buscando pelos mesmos padrões. Então como contemplaremos as novidades da vida se insistimos em encará-la pelo prisma de sempre?

“A verdadeira viagem da descoberta não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos” (Marcel Proust)

O que acontece é que queremos a transformação sem nos conscientizarmos de que precisamos fazê-la acontecer. Apontamos os dedos para todo o mundo, culpamos o Universo e nos sentimos os seres mais injustiçados que já habitaram o planeta. Mas não olhamos no espelho. Não rumamos rumo a nós mesmos. Não procuramos pelas partes que nos cabem quando o assunto é alcançar as novidades que tanto queremos, as novas conversas que tanto cobiçamos, o novo jeito de ser que almejamos para nós. Tudo pode mudar desde que mudemos o nosso posicionamento no meio do mundo. Ao invés de olhar sempre da mesma janela, que tal mudar de andar?

Mas isso é complicado. Porque ao mesmo tempo que queremos mudanças insistimos em velhos hábitos. Muitos aprendidos há tantos anos e repetidos à exaustão praticamente no automático. Nem nos damos conta do que fazemos. Nem percebemos que insistimos nos mesmos erros e acabamos alcançando, devido a isso, os mesmos resultados. Essa é uma viagem que precisamos fazer. Uma viagem que nos mostra quais ações têm nos encaminhado aos indesejáveis destinos, contra os quais lutamos arduamente para tentar escapar. Mas essa luta só terá serventia se formos capazes de despertar para o fato de que não é o mundo que precisa mudar, não é o ambiente ao nosso redor, não são as pessoas que conosco convivem. Nós é que precisamos mudar. Até porque não somos capazes de mudar o mundo nem os outros, mudamos apenas a nós mesmos e a forma como iremos nos comportar diante daquilo que a nós for dirigido. Se sofro em um relacionamento desinteressado, só deixarei de sofrer quando me libertar das amarras que me mantêm aprisionado àquela história. Se estou cansado do meu emprego, só experimentarei daquele renovo quando me conscientizar de que preciso ir em busca de novas opções. A responsabilidade é minha. E é isso o que nos assusta. É isso o que nos paralisa em muitos momentos. Pode até ser incômodo entender que a mudança que tanto buscamos na nossa realidade começa dentro de nós, a partir da maneira como a iremos compreender. Mas isso também é libertador. É libertador entender que nossa vida depende de nós, pois não mais ficaremos condicionados a tantas contingências que nem controlamos. Não vamos esperar pelo dia certo de ser feliz. Porque entenderemos que esse tal dia feliz precisa ser construído todos os dias!

(Texto de @Amilton.Jnior)