I-XCIX Jaezes de vida e morte
A todo mundo dei-me em meados de graça,
em época de fortuna solitária, vívida em águas passadas.
Hoje, tudo possuindo, sinto-me fútil,
refém de um homem único que sonho ser meu último.
Já que de longe faço-me dele, e tão distante mal sei do que espreita,
continuo o sonho de um futuro em alguns anos,
onde décadas se passam entre meus planos.
Vejo-me em tua vida, sem dúvida, sem mentira,
dando-lhe paz para que viva o dia,
esperando-o para acolher nas noites que findam.
Por agora, resta-me as sombras que sempre lembram-me do que houve,
de que me teve e me tens, a ponto de querer-lhe o bem,
e me humilho querendo o mínimo de abrigo.
Inclusive lembra-me o lar que sonho morar,
e de fato não importo onde estará se o tempo durar,
desde que um dia eu esteja em seu descanso,
poderei enfim aproveitar meus sonhos mundanos,
que me faz pior do que a alma que peca,
pois queimo com o sentimento que me acerta,
invocando tanto a morte por meu vício em pranto.
Pus-me até sob cartas para relutar a certeza,
talvez me apaziguar com alguma besteira,
mas falaram de ladinos em todos os cantos,
e que eu não deveria omitir tanto.
Mas juro pelo futuro que sou um santo.
E para que eu não implore e me perca na fragilidade,
dou-lhe o combinado, e mofo na espera do que deveria vir de bom-grado.
Terminei e me fechei, vivi o dia mais uma vez.
É quase outro dia, novamente não ouço o que queria.
Já penso mil coisas sobre as sombras que ecoam,
do que já disse e o que agora vive,
pela verdade de ontem e a breve que falha.
Agora, alguns minutos para um dia,
vou levando-me ao sono forçado,
pensando no amado e perdido sob um pesadelo
de um Deus desalmado.
Amo-te tanto que digo pouco.
É que a insegurança, se imaginas saberia,
o pedi em oração esquecida,
cochilando, pois o sono já me tinha,
era tudo só rotina.
Amém que agora me tens.