AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE UM SUICIDA
As últimas palavras de um suicida
Quero beber do vinho,
Como um cálice que me redime do pecado,
Quero ver a luz,
Como se o inferno, nela pudesse existir,
Quero gritar neste silêncio, quase morto...
E me calar, quando as palavras
Se tornarem simplesmente um arquivo de memórias,
E este ato que cometo,
É mais forte, que minha força,
Mais duro, que meu pecado,
Mais triste, que meu chorar...
Devo morrer, à alguns segundos,
E ninguém, por perto, está agora,
Queria falar, o que fiz,
E porque fiz...
Mas, sinto que devo-me calar,
Para não assustar, a quem tanto me amou,
E os lugares por onde passei,
Certamente, não mais estarei,
Meu sorriso, ficará suspenso,
Meu abraço, se tornará frio,
Já sinto a distância entre céu e inferno,
Mas, não tenho como corrigir,
Não sei, como me salvar deste perigo,
A noite está mais negra,
Que todas as noites já existidas,
Sinto o calor quase eterno
Queimando tudo dentro de mim,
Devo morrer agora,
E sem ninguém que possa me salvar,
Quero falar com um padre,
Para saber se o suicida, tem seu perdão,
Meu coração parece inchar dentro da minha tristeza,
Deixo filhos e marido,
Sem testamento, sem riquezas,
E tudo o que ficar de mim,
Talvez, se tornará decepção...
E ao morrer neste segundo, quase infinito,
Declaro-me o mais cruel de todos os seres,
Mas lavo-me a alma, por dentro e por fora,
Fujo dos erros incorrigíveis,
Das incógnitas, que em mim ninguém decifrou...
Vou intraquila, por saber o tamanho da minha frieza,
Mas, espero encontrar alguém, do outro lado,
No inferno fazer amigos...
Porque aqui, nem chance tive para ser amada como quis,
Mas, neste último segundo da minha primeira vida,
Pelo menos, tive a chance de pensar para dizer o que sinto,
De calcular a dor, que faço comigo,
E a dor que deixarei...
Tenho neste segundo, uma cruz, onde vejo Deus,
Vejo que está descontente, decepcionado,
Talvez, envergonhado de ter me chamado de filha,
E agora me vou,
O mais cruel dos seres, sei que sou...
Porque, tive a chance de escolher
Vidas, entre céu e inferno...
Mas, tristemente, devo dizer:
Foi isto, que escolhi para mim...
DEL DIAS