não é um adeus
isto não é um adeus.
é um até breve.
ei, me escuta, isto não é um adeus. eu juro. eu vou partir, mas um dia, quem sabe, eu volto. é que preciso ir embora, a minha versão de agora já não cabe aqui. e isso não tem nada a ver contigo, meu bem. nem com o que tu é, mas sim comigo e com tudo em mim que precisa ser colocado no lugar após essa explosão que aconteceu no meu interior. eu cresci. eu mudei. tu também. e já não somos um para o outro.
acontece. é a vida. e está tudo bem.
chega um tempo das nossas vidas em que é preciso admitir que não se cabe mais no lugar que se está. eu não me encaixo mais aqui. nesse espaço, em que os cômodos se transformaram num amontoado sem emoção. nessa vida, que partilhamos até aqui. em teu coração. admita, nosso relacionamento já não nos preenche como antigamente. e eu sei que sentirei a tua falta. todavia, como posso lidar com a tua presença quando também lido com a falta de mim mesma?
eu não consigo ser preenchida pelo teu amor sem primeiro precisar olhar para dentro e enxergar o abismo que há em mim. que em mim é ausência e também desejo. eu tenho muitas questões agora, e elas não te incluem. eu tenho uma ânsia de me conhecer melhor, de enxergar o tamanho da minha entrega ao outro, medir a espessura da minha intensidade. saber que pessoa humana sou eu.
tu me pode me questionar sobre o amor que eu disse sentir por ti. eu o sinto. continuará aqui, intacto. mas o amor se transforma, se reinventa, se torna outras coisas incríveis também, meu bem.
não acho que seja possível deixar de sentir amor. porque o amor é um sentimento único, forte, resistente, construído com tempo e conexão. e a ampulheta do tempo não pode pegar de volta a areia que eterniza os momentos que vivemos, que dediquei a ti.
o que acontece é que a vida é curta para permanecermos em pessoas e lugares que já foram lar, mas no presente estão frequências diferentes. maturidade é saber reconhecer quando chega esse momento e comunicar carinhosamente ao outro que precisa-se partir.
por isso, não fique magoado comigo, meu bem. não é pessoal. é só que crescemos. as nossas mãos não conseguem mais ficarem unidas durante a caminhada.
acontece. é a beleza triste da vida. e está tudo bem.
eu te amo, meu bem. essa é a única verdade imutável.
isto não é um adeus.
mas um até logo, meu bem.
nos esbarramos por aí.