Café
Hoje eu acordei como todos os dias, fervi o café como todos os dias, corri para o trabalho porque, como todos os dias, estava atrasada.
O café já estava frio quando finalmente tomei, e o gosto era fraco demais, sabia que você não teria gostado, mas hoje isso não importava. Ontem eu sofreria em silêncio por ter errado de novo a receita que você tão voluntariamente me ensinou, mas hoje um café fraco e frio me servia perfeitamente.
Hoje eu precisei tantas e tantas vezes voltar para casa e deitar na minha cama como se o mundo fosse me esperar descansar só mais 5 minutos, mas como todos os dias, não poderia simplesmente sair.
A comida esquentada do que ontem eu chamei de jantar agora me enjoava, mas como um primeiro dia, eu não soube reclamar.
Hoje era como todos os dias, mas hoje era o primeiro dia sem você por perto, sem aquela companhia tão estranha que dormia no quarto ao lado. Hoje eu sofri mais do que ontem, e amanhã sofrerei mais do que hoje, até que um dia eu vou entender que sua presença nada mais foi que um sonho, uma ilusão e então minha dormência diária voltará ao normal. Eu não vou mais me lembrar que o café precisava ser forte, que mistérios você carregava na mala, que conselhos você teria guardados para a hora e o momento exatos que eu precisaria, que saudade você faz. Hoje, só hoje, eu vou ficar com um café frio e ralo, porque me doeria muito tomar o seu café sem você aqui.