Demência é social
A demência não é uma questão individual, mas social que sempre foi vista como uma condição perturbadora da sociedade, uma espécie “de caruncho” da vida social, por isso, deve ser supressa como fator de estrangulamento e perturbação. A “elite mandatária” não suporta conviver com a demência, mesmo sendo ela própria uma. A “sociedade sanitária” é aquela que convive sem a “presença patogênica da demência”, fruto do tecido da vida coletiva.
A singularidade da demência denota uma sociedade patologizada, fruto da sociedade, porque um indivíduo “demente sozinho”, não constitui uma debilidade social, mas muitos indivíduos débeis constituem um problema social muito grave.
O discurso mais propagado pelos “soberanos de plantão” é que os loucos precisam ser retirados de circulação da vida coletiva, porque constituem uma ameaça à segurança pública. Quem é demente? Donde vem à demência? A demência é uma questão de saúde pública ou de um crime social? A contradição é, justamente essa, quando se afirma que a demência não brota do seio social sozinha, então a demência não é uma questão individual, mas circunstancial e histórica, portanto, é social. A demência tem uma genealogia como qualquer outra patologia. Agora o difícil é admitir que as pessoas possam ficar doentes coletivamente, não é preciso fazer muito esforço, basta mirar nos regimes de exceção que já se sucederam na história. A psicologia nos ensina que há um “inconsciente coletivo” buscando seu momento de realização. Esse “inconsciente coletivo” não é inerte. Ele produz a sua locomoção servindo-se, muitas vezes, de forças irracionais. A sua realização produz seu “primo gêmeo”, qual seja a “imbecilidade coletiva”.