A Sede. (O Livro dos Mortos. Cap. I)
A Sede. (O Livro dos Mortos. Cap. I)
Eu bebo do sangue, ódio. Cravado, e, cultivado no peito, com o coração dilacerado, esse vil, maldito ego, nega à si, a negra dor se ser.
Bebo do sangue, ódio. A sedenta vontade de matar, corromper, mutilar, compreender em desgraça, tudo que o amor, faz segredo.
Triunfa os deuses negros, sob o pêndulo, o corte, almas desencanadas devoradas pelo ferro, e, fogo, o resto do quê era a eterna luz.
Ceifando da natureza humana, sonhos, e, à beleza de tudo quê há, transformar em sofrimento o que os lábios proferem em amor, mas, tuas mãos desfere.
Eu bebo do sangue, ódio. O quê foi concretizado em verdade no livro da mentira, e, semeia no ventre de cada um, tirando-lhe o ar que respira, infestada de traições.
Eu bebo do sangue, ódio. Esse mal nas veias, seus pecados de santidade, e, virtudes, o evangelho segundo as profecias, tem como teor, um alto preço.
Sento-me à beira do abismo, louco, doente, escarnecido, contemplo nos olhos do mundo, a falsa promessa de salvação, no último dia do eterno nascer, eu, bebo do ódio, todo sangue cristão.
Texto: A Sede.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 07/05/2007