SER OU EXISTIR?
Seríamos apenas n’um dado instante ao que soment’existiríamos?
Humanos a que criados fomos, é fato
Quem dera se “duraríamos” em “nossa humanidade” ... até o fim!
D’alvorada nossa até o ocaso do “sagrado projeto” que a Vida nos criou
Mas eis que a noite vai ao encontro do dia (sem dó)
E a ele [o] escurece
E n’um existir inútil [como que a vegetar] a ele nos entregamos
Já que com o tempo perdeu-se [sem perceber] a energia de viver!
“Ser estante” (e somente isto) no tempo e no mundo, então
Que pena!
Enigmático tempo
Incompreensível
Houve um tempo em que ninguém s’houvesse e, portanto,
ainda não existia?
E tudo é “existente” ou tudo “é”?
Pois bem, se “é”, jamais deixou ... de ser
Sabendo-se que se realmente “é” ... é para sempre
Sendo assim, por que o medo de [um dia] deixar de ser?
Ou será que nada “é” já que tudo passa?
Considerando que se passa não pode ser!?
A não ser que s’esconde [aos olhos] o seu verdadeiro ser
No que não pode ser totalmente extinto
Ser ... ou ... existir?
Seriam ... iguais (sinônimos)?
Seriam ... “parecidos”?
Ou nada a ver?
Ou, melhor se diria, “complementares”?
Complementares, sim (ao qu’eu acredito)
Eu sou ... ou estou?
Sou porque estou ... ou estou porque sou?
É verdade
Somos enquanto estamos
Ou, n’outras palavras, somos enquanto existimos
Ou “porque” existimos
Ou existimos porque “somos”?
O que vem primeiro seria o “ser” ou o “existir”?
Mas ninguém pode ser a não ser ... qu’exista (no espaço-tempo)
E ninguém pode existir [de verdade] a não ser ... que “realmente seja”
Ser e existir
Afinal, para “quê”
E por qu’estou “aqui”?
Ou, o qu’estou “fazendo aqui”?
Seria [eu] apenas sombra no mundo que iluminado s’encontra pelo sol?
Se assim “sou” (ou estou), na verdade não estou fazendo nada
Já que também ... não sou nada
Para que alguém existe?
Ou melhor (a fim de que seja mais impactante):
Para qu’eu existo?
Para ser o quê?
Tá legal, já entendi
Nossos pais nos jogaram no mundo para que sejamos “alguém”
E adestrados [ao que desta forma nos colocaram] ninguém
quer ser “ninguém” (um ente anônimo e desconhecido)
E, visto que “eu desejo ser alguém” não posso permitir que
alguém comigo se iguale, no que tenho “de ser” a todos ... superior
Ou, n’outros termos, abomino e odeio a ideia de “igualdade”
Sim, não posso ser “comum” (ou como todos)
Preciso ser “importante”, “diferenciado” ...
Enfim, preciso ser “distinto”
E nest’instante torno a repetir:
Para que você “está” aqui?
Para que você “existe”?
Que saber a verdade?
Direi agora:
Para que seja “percebido” e, portanto, notado,
de forma que não seja ... um “zé ninguém”
Para que seja uma “celebridade”, ou então ... um “doutor”
Não é mesmo?
Ou estou errado?
Ah, quer saber o penso disto?
Direi, então:
Quanta tola vaidade!
É muito pouco para o propósito “real” que a Vida nos fez
Mas a verdade é que todo mundo quer ser “assim”:
“Importante”, “eminente”, “célebre”, “conhecido”, “famoso”
Desde que, é claro, somente ele o seja
Ser “comum” ... é inadmissível
Simplesmente inaceitável
É preciso que eu seja ... “o cara”
Do que não quero ser um subalterno [d’alguém]
Desejo, portanto, estar por cima [de todos]
No que sonho, ambiciono e espero [sempre] para mim:
Não aspiro ser somente um simples advogado, oh! de form ‘alguma
É muito pouco para mim
Sinto-me obrigado a ser juiz, promotor, desembargador
Não pretendo ser apenas ... um simples padre
Suspiro a ser bispo, cardeal, até chegar a papa
Deus me livre de ser um humilde soldado raso (cabo)
Almejo ser tenente, coronel, major, general
(Estar “no topo”)
Não quero ser simplesmente um músico de bar
Oh, não! não quero ser uma figurinha fácil, como qualquer um
Necessito ser uma celebridade, ter “nome”, notoriedade,
ser aplaudido, ovacionado, idolatrado
Longe [de mim] em querer ser um “aviãozinho” no morro
Tenho em vista ser “o dono da boca”, o chefe da milícia
A ideia de ser um vereador jamais me veio à cabeça, mas sonho um
dia em ser deputado, senador até chegar à Presidência da República
Afinal, é para isto qu’estou no mundo:
Ser “um campeão”
Ah! Deixa quieto ...
Bem, prefiro voltar ao estudo filosófico [existencial]:
Uma nuvem “é” uma nuvem ou “está” uma nuvem?
Enquanto “está” [uma nuvem] ela “é”
A se concluir que “se não está mais” deixou, então de “ser”?
Uma nuvem “é”
Assim como um cachorro “é”
Uma árvore “é”
Como também uma montanha “é”
Então, qual a diferença entre nós [que “somos”] para com uma
nuvem, um cachorro, uma árvore, uma montanha?
Afinal, tudo “é”
(Ainda que tudo seja ... tão breve!)
Ser para “ser”
Mas, ser para [ser] o quê?
Ser para “ser mais” no existir do mundo
Ser para “poder ser mais”
Ser para ... “transcender”
Sim, somos “um projeto de ser” [muito mais do que já somos]
Ao que ouso dizer que [ainda] estamos n’um plano bastante baixo
E somos todos “seres situantes” no dinamismo da vida
Somos “seres inacabados” [ainda] ... na “existência”
Seres “em construção”
E nest’hora alguém pergunta:
- Mas por que morremos?
Qual a finalidade da “morte”?
Ser, talvez, uma espécie de "orgasmo da vida"?
Oh, e acaso a incrível jornada terminaria [aqui]?
Não, não haverá um risco de perder [a vida] para quem
“verdadeiramente vive, e, sobretudo, a vive”
Todavia, somos “seres para a morte”, sim, como tudo no mundo
Desta que a todos amedronta e angustia
Ou, pelo menos, para quem a “Esperança” nada significa
Oh! Felizes os que verdadeiramente vivem e não apenas “existem”
Sim, os que “vivem de verdade” na “existência do mundo”
E que também esperam ... o “Esperado” mais que tudo
Carlos Renoir
Rio de Janeiro, 25 de julho de 2023
IMAGENS: FOTOS PESSOAIS
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FORMATAÇÃO SEM AS ILUSTRAÇÕES:
SER OU EXISTIR?
Seríamos apenas n’um dado instante ao que soment’existiríamos?
Humanos a que criados fomos, é fato
Quem dera se “duraríamos” em “nossa humanidade” ... até o fim!
D’alvorada nossa até o ocaso do “sagrado projeto” que a Vida nos criou
Mas eis que a noite vai ao encontro do dia (sem dó)
E a ele [o] escurece
E n’um existir inútil [como que a vegetar] a ele nos entregamos
Já que com o tempo perdeu-se [sem perceber] a energia de viver!
“Ser estante” (e somente isto) no tempo e no mundo, então
Que pena!
Enigmático tempo
Incompreensível
Houve um tempo em que ninguém s’houvesse e, portanto,
ainda não existia?
E tudo é “existente” ou tudo “é”?
Pois bem, se “é”, jamais deixou ... de ser
Sabendo-se que se realmente “é” ... é para sempre
Sendo assim, por que o medo de [um dia] deixar de ser?
Ou será que nada “é” já que tudo passa?
Considerando que se passa não pode ser!?
A não ser que s’esconde [aos olhos] o seu verdadeiro ser
No que não pode ser totalmente extinto
Ser ... ou ... existir?
Seriam ... iguais (sinônimos)?
Seriam ... “parecidos”?
Ou nada a ver?
Ou, melhor se diria, “complementares”?
Complementares, sim (ao qu’eu acredito)
Eu sou ... ou estou?
Sou porque estou ... ou estou porque sou?
É verdade
Somos enquanto estamos
Ou, n’outras palavras, somos enquanto existimos
Ou “porque” existimos
Ou existimos porque “somos”?
O que vem primeiro seria o “ser” ou o “existir”?
Mas ninguém pode ser a não ser ... qu’exista (no espaço-tempo)
E ninguém pode existir [de verdade] a não ser ... que “realmente seja”
Ser e existir
Afinal, para “quê”
E por qu’estou “aqui”?
Ou, o qu’estou “fazendo aqui”?
Seria [eu] apenas sombra no mundo que iluminado s’encontra pelo sol?
Se assim “sou” (ou estou), na verdade não estou fazendo nada
Já que também ... não sou nada
Para que alguém existe?
Ou melhor (a fim de que seja mais impactante):
Para qu’eu existo?
Para ser o quê?
Tá legal, já entendi
Nossos pais nos jogaram no mundo para que sejamos “alguém”
E adestrados [ao que desta forma nos colocaram] ninguém
quer ser “ninguém” (um ente anônimo e desconhecido)
E, visto que “eu desejo ser alguém” não posso permitir que
alguém comigo se iguale, no que tenho “de ser” a todos ... superior
Ou, n’outros termos, abomino e odeio a ideia de “igualdade”
Sim, não posso ser “comum” (ou como todos)
Preciso ser “importante”, “diferenciado” ...
Enfim, preciso ser “distinto”
E nest’instante torno a repetir:
Para que você “está” aqui?
Para que você “existe”?
Que saber a verdade?
Direi agora:
Para que seja “percebido” e, portanto, notado,
de forma que não seja ... um “zé ninguém”
Para que seja uma “celebridade”, ou então ... um “doutor”
Não é mesmo?
Ou estou errado?
Ah, quer saber o penso disto?
Direi, então:
Quanta tola vaidade!
É muito pouco para o propósito “real” que a Vida nos fez
Mas a verdade é que todo mundo quer ser “assim”:
“Importante”, “eminente”, “célebre”, “conhecido”, “famoso”
Desde que, é claro, somente ele o seja
Ser “comum” ... é inadmissível
Simplesmente inaceitável
É preciso que eu seja ... “o cara”
Do que não quero ser um subalterno [d’alguém]
Desejo, portanto, estar por cima [de todos]
No que sonho, ambiciono e espero [sempre] para mim:
Não aspiro ser somente um simples advogado, oh! de form ‘alguma
É muito pouco para mim
Sinto-me obrigado a ser juiz, promotor, desembargador
Não pretendo ser apenas ... um simples padre
Suspiro a ser bispo, cardeal, até chegar a papa
Deus me livre de ser um humilde soldado raso (cabo)
Almejo ser tenente, coronel, major, general
(Estar “no topo”)
Não quero ser simplesmente um músico de bar
Oh, não! não quero ser uma figurinha fácil, como qualquer um
Necessito ser uma celebridade, ter “nome”, notoriedade,
ser aplaudido, ovacionado, idolatrado
Longe [de mim] em querer ser um “aviãozinho” no morro
Tenho em vista ser “o dono da boca”, o chefe da milícia
A ideia de ser um vereador jamais me veio à cabeça, mas sonho um
dia em ser deputado, senador até chegar à Presidência da República
Afinal, é para isto qu’estou no mundo:
Ser “um campeão”
Ah! Deixa quieto ...
Bem, prefiro voltar ao estudo filosófico [existencial]:
Uma nuvem “é” uma nuvem ou “está” uma nuvem?
Enquanto “está” [uma nuvem] ela “é”
A se concluir que “se não está mais” deixou, então de “ser”?
Uma nuvem “é”
Assim como um cachorro “é”
Uma árvore “é”
Como também uma montanha “é”
Então, qual a diferença entre nós [que “somos”] para com uma
nuvem, um cachorro, uma árvore, uma montanha?
Afinal, tudo “é”
(Ainda que tudo seja ... tão breve!)
Ser para “ser”
Mas, ser para [ser] o quê?
Ser para “ser mais” no existir do mundo
Ser para “poder ser mais”
Ser para ... “transcender”
Sim, somos “um projeto de ser” [muito mais do que já somos]
Ao que ouso dizer que [ainda] estamos n’um plano bastante baixo
E somos todos “seres situantes” no dinamismo da vida
Somos “seres inacabados” [ainda] ... na “existência”
Seres “em construção”
E nest’hora alguém pergunta:
- Mas por que morremos?
Qual a finalidade da “morte”?
Ser, talvez, uma espécie de "orgasmo da vida"?
Oh, e acaso a incrível jornada terminaria [aqui]?
Não, não haverá um risco de perder [a vida] para quem
“verdadeiramente vive, e, sobretudo, a vive”
Todavia, somos “seres para a morte”, sim, como tudo no mundo
Desta que a todos amedronta e angustia
Ou, pelo menos, para quem a “Esperança” nada significa
Oh! Felizes os que verdadeiramente vivem e não apenas “existem”
Sim, os que “vivem de verdade” na “existência do mundo”
E que também esperam ... o “Esperado” mais que tudo
Carlos Renoir
Rio de Janeiro, 25 de julho de 2023