Do nascer ao pôr do sol, já não sou apenas eu
Estou chegando lá, na constância do rasgar-se e remendar-se.
Acordo junto ao nascer do sol, passo por avenidas que sempre me levam ao mesmo destino. Escuto músicas iguais entre conversas cotidianas que nunca mudam.
Retorno a minha janela durante o pôr do sol. O sol já não reside tanto na minha rotina, o vejo quando nasce e quando morre, apenas.
Me debruço na janela e escuto blues e o bom e velho rock de sempre.
Por vezes caio ao chão, nua, desmoronando com o peso de existir e sentir.
Encosto minha cabeça no travesseiro e, novamente, acordo junto ao sol.
Acolho meus amores, recolho minhas dores. O vento massageia minha pele, o céu harmonizado ao som dos pássaros desenha o meu cenário natural.
Me guio pelas mesmas avenidas e inicio meus dias nada convencionais. As perguntas começam, respondo quando sei, guardo as que não sei. Depois esqueço. E depois relembro. E sigo lembrando e esquecendo.
Sorrio, choro, grito, canso. Me preencho, me esvazio. Eu nasço e me ponho. Me encontro nas estrelas, desaguo nas chuvas, afundo na seca do meu vazio.
Me guio por vias iguais, entre diferentes pessoas. Algumas me puxam para suas vidas, outras eu puxo para a minha. Algumas convido a ficar, mas, no fim, elas sempre vão e levam grande parte de mim.
E eu resto.
Resto nos detalhes mais singelos que me deixam. Os que sorriem, os que choram, os que cantam, os que escutam, os que olham, os que sentem. Os que vivem. Sem perceber, me torno todos aqueles que passam por mim.
Do nascer ao pôr do sol, já não sou apenas eu. Sou todos os detalhes que se desenharam em mim. Sou todas as vidas que se fizeram em mim.