Primeira Vista
Certa vez, li uma frase na parede do escritório de um antigo cliente. Ela dizia assim:
"Você nunca terá uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão".
Naquele contexto específico ela veio muito a calhar e acabou sendo marcante, pois tínhamos o visitado porque precisávamos reverter um fracasso anterior na aplicação de um processo novo. Mas essa história não é sobre sistemas e processos.
Anos mais tarde eu conheci uma menina e senti algo diferente assim que eu vi. A essa altura eu já não era nenhum menino, já havia conhecido muitas outras garotas antes dela, mas todas elas tiveram algo em comum, o processo.
Eu nunca fui alguém que gosta tão fácil das pessoas, amorosamente falando. Assim como um argumento, onde acumulamos questões empíricas para formar uma opinião, eu sempre precisei primeiro conhecer as pessoas para então, com sorte, desenvolver algum sentimento sobre elas. Mas dessa vez foi diferente.
A medida que os meses foram se passando eu tentava me convencer que eu estava errado, que provavelmente todo sentimento sobre essa menina fosse só uma espécie de carência. Eu não acreditava no que estava sentindo e isso causou uma confusão interna considerável, até o momento que começamos a nos aproximar e conversar diariamente sobre os mais variados assuntos.
Por vezes escutei que o desejo que sentimos é por coisas que não possuímos e uma vez que o façamos, todo encanto se esvai. Considerei então essa hipótese: Era óbvio que minha obsessão era única e exclusivamente pelo fato dela não me dar bola, e mesmo após conversarmos diariamente ainda insistia em recusar todas as minhas tentativas de aproximação. Foram dezenas de convites recusados, sempre sob o argumento que relações a assustavam, apesar da grande estima que tinha por mim. Eu acreditava nela, pois sempre se mostrou verdadeira.
Mas então ela tomou coragem e aceitou sair comigo, derrubando minha hipótese sobre minha obsessão ser baseada em sua rejeição. Cada vez que eu a encontrava eu gostava mais dela e cada vez menos conseguia disfarçar o olhar, o carinho e admiração. Todos ao nosso redor começaram a entender o que estava rolando entre nós. Era indisfarçável.
O tema de uma de nossas conversas fora sobre amores e paixões. Nesse dia ela me confessou nunca ter amado alguém. Achei engraçado e curioso, ela já tinha 22 anos e passara intacta pela adolescência, enquanto eu aos 29 achava que havia amado pelo menos meia dúzia de pessoas. Achava, porque ela confundia meus sentimentos de tal forma que todo meu passado parecia menor do que aquele presente. Dessa vez era nitidamente diferente.
Passado mais algum tempo, após seu aniversário eu confessei que a amava. A essa altura já estavamos saindo semanalmente, passeando de mãos dadas e trocando carícias em praças públicas. Apesar de ter me soado um pouco precoce pelo pouco tempo de nós dois como um casal, me senti aliviado por finalmente verbalizar algo que eu já sentia há vários meses. A vida nos prega peças e muitas vezes argumenta conosco de forma irrefutável, fazendo-nos sentir aquilo que por vezes julgávamos impossível. Sempre tive uma opinião firme sobre o tal amor à primeira vista, simplesmente não acreditava nele porque pra mim o amor funcionava diferente, como um processo. Não acreditava.