Você tem vivido?

Você tem vivido? Talvez a pergunta seja um tanto esquisita e talvez você me questione sobre o que quero dizer com isso. Mas eu insisto em investigar se você tem realmente vivido, ou seja, se tem feito escolhas pautado em seu próprio senso de julgamento ao invés de se pautar sobre o que as outras pessoas fazem de suas próprias vidas. Você tem aproveitado essa passagem por aqui para, a cada amanhecer, aproximar-se mais de você mesmo? Ou será que tem trilhado a sua caminhada mais preocupado com a repercussão de seus gestos, os comentários acerca de sua existência? Porque nessa de vivermos preocupados com o que vão pensar ou deixar de pensar a nosso respeito, podemos adotar pensamentos que não são realmente nossos, atitudes que jamais teríamos, estilos de vida que apenas nos deixam ridículos porque, em relação à nossa essência e identidade, aquilo pouco ou nada tem a ver conosco. Muitos temem a morte, o fim, aquele inevitável ponto final. Mas deveriam se preocupar com a precocidade do fim de suas histórias mesmo enquanto ainda se mantêm vivos – um fim que acontece quando decidem, de maneira tão equivocada, abrir mão da própria vida para serem apenas personagens de uma história da qual, na realidade, deveriam ser autores.

“Não é a morte que um homem deve temer, mas nunca ter começado a viver” (Marco Aurélio)

Não se preocupe com o tempo cronológico, aquele do relógio, que nunca cessa, nunca para, estejamos aqui ou não. Preocupe-se com o tempo vivido, aquele que é subjetivo, cujo sentido é atribuído por você a partir das escolhas que faz em vida. Qual tem sido a qualidade desse tempo? Quero saber com isso qual tem sido o significado de suas escolhas? Elas têm servido à sua própria vida? À sua própria satisfação nessa existência? Ou será que elas têm sido feitas com o propósito de impressionar uma plateia sempre tão insatisfeita? Porque, como dizia Dalai Lama, “os seres são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas, satisfazê-los”. E ele conclui com um sábio conselho: “Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro”. Ou seja, preocupe-se em viver e, se ainda não tem sido fiel a si mesmo, preocupe-se em começar a viver!

Fato é que se fizermos escolhas de qualidade ao longo da nossa existência, escolhas que respeitem nossa individualidade e humanidade, nossa singularidade, particularidade e unicidade, então o nosso encontro com a inerente finitude da existência humana será permeado por gratidão e orgulho: seremos gratos pelas oportunidades que a nós foram ofertadas e sentiremos orgulho por termos utilizado a nós mesmos como instrumento para a nossa própria evolução – ou seja, não estivemos preocupados em impressionar, mas em fazer da nossa existência algo importante, não aos outros, sempre tão difíceis de agradar, mas a nós mesmos, os únicos que importam quando se trata da história que vamos desenvolver! Não se preocupe em morrer. Esteja preocupado com a possibilidade de não viver. Quando a morte chegar, será apenas o fechar das cortinas de um show que será aplaudido sem que você tenha se anulado por isso – aplaudirão uma vida autenticamente vivida.

(Texto de @Amilton.Jnior, psicólogo)