Hipocondria
Qual hipocondria kafkaniana não estaria agora contente observando-me doente, fadigado, escrevendo versos, imaginando-me piorado, tal qual seu mártir literário, em um escritório encerrado?!
Por sorte, hoje Francisco não veio, e pude, sem maior receio, espirrar meu cansaço, a torto e a direito, sobre um barulho estridende que ecoa longínquamente por todo o pátio.
Cansado.
Com frio. Nada mais.
Tal disposição faz nos voltarmos para aquilo que nos verdadeiramente preenche, economizando energia vital, tanto o corpo como a mente. Recolho-me, assim, tremebundo e inconstante, preservando algum calor neste pequeno corpo que opera deveras vacilante.
Já a alma resgata meu sentimento adormecido, e o desperta, agora vívido, para tecer versos necessários. Esta é a alma do poeta diante da doença, dedicando à sua musa, toda a sua essência.