DEZEMBRO...ou desvenda-me
O sol pisca fresco neste dezembro. Não chega a tremular no asfalto.
Alguma chuva e o vento quase frio refrescam os dias abafados. Algo me diz que este dezembro será difícil de esquecer. Entre perdas e ganhos, há um quê de despedidas com jeito de renascimento que deixam embaralhadas as emoções. Um arrepio percorre meu peito e só sei que é preciso navegar na crista da onda, que atravessa. Onde ela vai arrebentar e quando descansará suas águas não há como definir.
É preciso equilíbrio de surfista nessa onda de acontecimentos, impulsos e sensação de navegar sem controle do porvir. Nessa hora, manter inabalável a fé é inestimável. Dá para imaginar como é viver um cataclismo, algo tão inesperado, fora de controle. É assim que me sinto. Então só resta entregar-me à onda, movimento de vida que perpassa tão inexorável. Em meio a tudo isso, tenho a sensação da urgência. Não há tempo a perder. Ficar parada é igual a morrer propositadamente, aceitar o domínio do medo e da insegurança.
Seguir em frente é prova de fé e confiança, valorização da vida, amor ao que existe ao redor. Tudo pode mesmo acabar, mas o fim me encontrará em combate. Este não é um dezembro qualquer. Os outros tinham aquele aspecto próprio de fim de ano, o Natal e as canções dando adeus ao ano velho. Este traz o prenúncio do novo, com gosto de saudade, é certo, mas porta um convite de se jogar ao desconhecido, um apelo ao espírito de aventura do surfista. Hora de abandonar o conforto da onda mansa e mergulhar no túnel perigoso dos riscos de viver, ousar, lançar-se. É um dezembro diferente dos outros dezembros da minha vida.
É triste, é alegre, é saudoso, é velho, é novo, é enigmático, está aí, olhando-me com uma cara de esfinge, esperando ser desvendado. É um dezembro memorável, do ano de dois mil e sete.
17/12/2007