Libélulas
E lá eu as avistei... Cavalgando ao ar livre sob o sol do meio dia... flutuando com seus rodopios zigue-zagueantes, como pétalas soltas ao vento, como flores sendo balançadas pela brisa do fim de tarde, alheia às preocupações mundanas de qualquer era, em seus infinitos sobe-desces-meia-voltas em meio a uma paisagem semi-urbanizada das favelas as quais nos encontramos. Como que isoladas em um universo palarelo, passavam por minha volta como se eu nada fosse, como se minha efêmera existência nada significasse diante da majestosa grandiosidade das suas infinitamente mais efêmeras vidas livres, libertas das amarras do refletir, coisa essa muitas vezes completamente... não desnecessária, mas confinadoras do nosso miserável existir, e de nossa empobrecida alma. Livres do sentir amargo, do insalubre desamor, das inconstantes mudanças de humor, simplesmente dançando ao som de atonais acordes, melodias em tons e semi-tons, de uma desritmia inacessível aos ouvidos desatentos, que inexplicavelmente se fundem numa harmoniosa canção. E por uma última vez, as avistei, indo embora, ao morrerem ao por do sol...