Fluxos e refluxos, depressão e ansiedade
A depressão e ansiedade nascem quando resistimos ao refluxo daquelas coisas que acostumamos nos apegar e que nos davam uma identidade; quando estas coisas desmoronam, pois na dimensão temporal tudo vai desmoronar cedo ou tarde, reagimos a isso com crescente ansiedade e, consequentemente, depressão; perdemos aquilo que configurava nossa realidade, nos vemos sozinho com nós próprios. O vazio cavado pelo refluxo das coisas nos coloca diante da verdade, mas resistimos ao fato (doloroso) que nos desperta para a nossa condição solitária. Mas veja bem, o que está sofrendo não somos nós, e sim a projeção que fizemos de nós. Nós somos testemunhas das inúmeras identidades que vão e vêm, testemunhas do fluxo e refluxos das coisas. É como se a depressão fosse uma reminiscência daquela identidade na qual nos apegamos e que nos dava um sentido de valor. Sem consciência desse processo não abrimos espaço para que novos fluxos, destinados aos refluxos, possam se manifestar. Somos um canal pelo qual múltiplas subjetividades possam ser possíveis. Somos muitos em nenhum...
Agora, observe a maneira como nossa sociedade está configurada: singularidades presas a modelos de vida que já se foram, estigmatizados pelo sistema que fomenta ainda mais a subjetividade esgotada; para isso serve os remédios, os psicólogos e sacerdotes, para fazer retornar ao jogo aqueles que, justamente por "causa" desse jogo, adoeceram. O sistema está em nós. Assim como a morte do sistema é inaceitável para o sistema, ou seja, ele não pode viver sem o lucro, assim nós também não podemos viver sem a subjetividade formatada pelo mesmo. Porém, quem sofre somos "nós" (atenção as aspas) não o sistema, porque este é impessoal, abstração mental, não existe fora de nossa mente...