Nós, os subversivos
Quando o valor pelo conforto começa ser maior que o valor pela liberdade, pode-se esperar, tenha certeza, uma escravidão do bem-estar, uma ditatura do hedonismo. Todos os sinais estão aí, tudo se prepara e se encaminha para esse espetáculo. Só agora os senhores do mundo (todos eles também escravos do conforto), começam a perceber que o ser humano é menos digno de risco quando se sente confortável. Prevejo o dia em que compraremos em farmácias "pílulas da felicidade". Porém, em contrapartida, eu lhes digo que somente a dor, a grande e lenta dor liberta o espírito. É preciso estar insatisfeito, inquieto, indignado, revoltado para se proteger do processo maquínico de captura do desejo.
"Ora, e por que o conforto seria uma objeção à liberdade, Fiodor?" Porque a liberdade, antes reprimida, agora, na sociedade de consumo e produção, é explorada, guiada com o propósito de manter o fluxo desejante cativo do bem-estar vendido pela publicidade. "E o que isso têm de ruim,
Fiodor?"
Se você não percebe, se não sente, então não foi feito para a liberdade. Falta-lhe vontade de potência, vontade de criar, a partir de sua própria dor, o mundo que lhe cabe. Sentimos diferente, pensamos diferente. Nós, os subversivos, sempre existimos, é justamente contra nós que se dirige a formatação sistêmica do desejo. É contra nós que sempre lutou o Estado. Nós, os loucos, miseráveis, réprobos imorais.