Nossos espaços
A vida é mesmo corrida. Quando nos tornamos adultos, quando saímos da tranquilidade da infância ou mesmo da fase de descobertas da adolescência e adentramos o universo adulto, compreendemos o quanto o tempo pode ser escasso. Em parte, a culpa é nossa, por nos preocuparmos com coisas banais, sem as quais poderíamos muito bem viver. Em outra parte, a vida é assim mesmo. Precisamos seguir nossa rotina, cumprir com o nosso trabalho, prosseguir em nossos estudos, enfim, coisas que retiram de nós o pouco tempo do qual dispomos. Mas isso não deveria servir como justificativa para o fato de que perdemos espaço na vida uns dos outros.
Recentemente, navegando pela internet, me deparei com um post que falava sobre quando perdemos amizades que nos eram tão únicas e especiais. Fui ler os comentários (confesso que tenho esse vício rs) e fiquei surpreso pela dor que tantos experimentam por perceberem que seus amigos, aquelas pessoas tão próximas e queridas, foram levados pelo tempo, distanciados pela vida, afastados pela correria da modernidade da vida adulta. Muitas lamentações. Muitos desabafos. Mas, também, muito conformismo. É como se tivessem normalizado a perda de amizades, a perda de pessoas que são capazes de nos conhecerem até melhor que nós mesmos! É como se estivéssemos acostumados a permitir que pessoas queridas simplesmente sejam tiradas de nós. O que me apavora e angustia. O que me entristece. Se você tem a sorte de ter um amigo, um amigo verdadeiro, leal e fiel, jamais o perca. Não se convença de que a vida é assim mesmo e que aos poucos vamos perdendo espaço na vida uns dos outros. Porque isso não é verdade. Não pode ser verdade. Se você teve a sorte de construir laços reais com alguém, lute para que esses laços jamais se afrouxem e nunca se soltem. Porque a dor pode ser insuportável.
Esse pensamento, o de que é assim mesmo e as amizades se vão com o tempo, esboça uma preguiça que temos na hora de manter nossos relacionamentos e uma ingenuidade que nos engana, fazendo-nos pensar que o amor, seja ela de qual tipo for e a quem quer que seja dirigido, é capaz de se manter sozinho. O que também não é verdade. Podemos nos ver distanciados até de nossos pais se não fizermos algum esforço por nos mantermos presentes apesar das físicas distâncias! Precisamos criar estratégias para que isso não aconteça. Muitos reservam o final de semana para reencontrarem seus pais, outros reservam algum final de tarde para fazerem uma visita àqueles que, anos atrás, lhes proporcionaram condições de vida. O mesmo devemos fazer com os nossos amigos.
Digo isso porque eles são importantes. São como família. Ou melhor. São uma família. A que nós escolhemos com o tempo. E família deve ser defendida, deve ser protegida, deve ser cuidada dia após dia. Não temos ligações sanguíneas, eu sei. Mas o sangue não significa nada se não houver amor. Somos conquistados pelos nossos amigos pelos bons sentimentos que por eles compactuamos. Somos a eles ligados pelo amor que por eles experimentamos. Um sentimento que deve ser alimentado constantemente. Um sentimento pelo qual precisamos lutar enquanto vivermos para que nunca nos sintamos sozinhos. E não é sozinho no sentido físico. É no sentido emocional, afetivo. Para que tenhamos a consciência de que em algum lugar, seja ele perto ou longe, há alguém com quem poderemos celebrar nossas conquistas ou chorar nossas dores. Então se esforce por criar espaços para seus queridos amigos em sua vida. Não deixe que a correria os distancie. Não deixe que o tempo os afaste. Não deixe que as obrigações os tornem em desconhecidos. Não permita que tantas experiências compartilhadas, que tantos sonhos sonhados juntos, sejam simplesmente esquecidos ou ignorados como se fossem nada. Poucas coisas importam tanto na vida quanto ter ao menos um amigo no qual possamos confiar: aquela pessoa que, quando a vida doer, não se importará de colocar a própria dor no bolso para nos ajudar a cuidar da nossa. Uma pessoa que também precisamos ser.
(Texto de @Amilton.Jnior)