A arte de ser louco
Quem disse que o chapeleiro maluco era maluco?
A loucura é a semente que faz florescer a sabedoria. É o único meio de dar asas à razão e à imaginação ao mesmo tempo. É a forma de ver além da curva, de enxergar o lado de fora da caverna.
Os loucos, ou tidos como tal, são os seres mais sábios que há nessa terra avarenta. Portanto, como o filho pródigo que após experimentar as migalhas da vida profana, até cair em si, e vislumbrar que retornar a casa de seu pai é a decisão mais sensata a se tomar. Volto a provocação dita a pouco:
"Quem disse que o chapeleiro maluco era maluco?"
Ser doido, maluco, aluado, é a única maneira de viver em um mundo onde as pessoas são de fato "malucas".
O historiador e professor brasileiro, Leandro Karnal, proferiu em um momento no café filosófico promovido pela tv Cultura, as seguintes palavras:
"Porque ser normal neste mundo é ser louco, e ser enquadrado neste mundo é, em primeiro lugar, ser alguém que serve para o palco alheio para a peça escrita pelo outros, um roteiro definido por terceiros, e ao final, uma morte solitária sem a palma de ninguém, apenas com uma biografia fazia e absolutamente infeliz."
A partir desta percepção podemos compreender que há em nossa pequena existência, apenas uma possibilidade de permitir o dançar fluido do ser. E essa possibilidade é ser "louco". E para sustentar minha tese faço uso das palavras do objeto de minha admiração intelectual, o Sr. Karnal.
E para além disso, a visão do professor se reflete em uma teoria apresentada há séculos atrás pelo filósofo ateniense Platão. Sim, me refiro a nossa abrilhantadora do pensamento sábio: A teoria da caverna.
Como todos bem sabem, a caverna simboliza o mundo onde todos os seres humanos vivem. As sombras projetadas em seu interior representam a falsidade dos sentidos, enquanto as correntes significam os preconceitos e a opinião que aprisionam os seres humanos à ignorância e ao senso comum.
Todos os homens que estão presos lá dentro nunca tiveram a chance de sair e de ver como as coisas eram de fato, sempre viviam de projeções que tinham do real. E quando um dia um dos homens consegue se soltar das correntes e ir para fora da caverna. Ele se deslumbra com as coisas, de perceber como era o mundo. Um mundo do qual ele jamais imaginaria que era como era. A par disso, e tomado pelo entusiasmo ele decide compartilhar suas descobertas com os demais prisioneiros que não conseguiram o mesmo feito que ele. Mas ao fazer isso, ao compartilhar o que tinha vislumbrando ele é ridicularizado, chamado de louco, mentiroso e talvez todos os outros adjetivos que tange a falsidade. O rapaz seriamente deve ter se sentido triste. Pois ele viu o mundo como ele era, e sabia que tudo o que tinha visto das projeções, era mentira, e ao contar isso era taxado de "louco"? Creio que qualquer um em seu lugar se sentiria triste.
Agora trazendo a teoria da para um campo de domínio reflexivo.
Quantos de nós não é tido como "louco" simplesmente por ter uma ideia que divirja da do coletivo?
Quantos de nós não somos ridicularizados por simplesmente ver o mundo de uma outra forma, de não pensar como todos pensam?
Mais uma vez volto ao questionamento do início:
"Quem disse que o chapeleiro maluco era maluco?".
O professor Leandro estava em sua total plenitude no que desrespeito a razão, quando disse que ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente. Pois assim como o homem que fugiu da caverna e viu o mundo como ele era literalmente, e que quando contou foi taxado de louco. Assim somos nós. Muitos de nós vimos a verdade fiel que há fora da caverna, porém ainda que desejemos proclamar o que vimos para o mundo, alguns ainda insistem em continuar acreditando nas projeções que são dadas pelas sombras, e não se permitem ser domados pela verdade. A estes só nos resta dar a nossa pena, e torcer para que um dia as algemas venham a se soltar e que ao chegarem na parte externa da caverna possam ver com seus próprios olhos aquilo que é real e não ilusório.
Com isso concluo que o chapeleiro maluco não era maluco, era apenas um dos poucos que conseguiu olhar por de fora da caverna, ver como as coisas eram. E se isso é loucura, bom, então, acho que posso me considerar o doido mais veemente de todos.