Amo a tristeza.
Alerta!
A tristeza chegou...
Apaixonei-me por ela!
Hoje conheço-a bem, pois que mergulhei nela.
Hoje, fui ao fundo e asfixie-me...
Vi que lá é apenas o começo!
Desaconselho que se façam assim!
Mas, incentivo que entendam seus meandros, atalhos e descaminhos.
Mas, façam isso de longe.
Grito que se afastem dela!
Aproximem-se apenas o suficiente para que a vejam de relance.
Sinti seu sabor.
Degustei-a como um goles de vinho de safra única.
Vi-me em parto e parti!
Parti-me na dor do parto na minha tristeza.
Parti-me ao meio.
Nela me parto e fortaleço-me!
Minha pele é crosta segura, ríspida,
E coração refeito a frio.
Toque-me e sinta que morri.
Esfarelei-me e refiz meus farelos,
Sedimentos, ferragens e concreto!
Quebre-o e encontre-me, pois que nele, renasci.
Amo a tristeza!
Apaixonei-me por ela!
Repouso nela em crostas;
Gelo, ventos frios que aquecem meu coração!
Tente tocar-me sem medo.
Mas, esqueça o homem que fui.
Onde antes havia aconchego,
Hoje, há gelo e concreto.
Ventos de frio, sem alento.
Gelo que cresce,
É meu alimento, fermento.
Alimenta minha vida diária,
Fria autonomia de idas e vindas,
Sigo em era glacial,
Firme na total independência de dias.
A tristeza me acolheu em seu braços,
Trouxe-me um banquete de gelo,
Congelou-me todos os pelos,
Aqueceu meu coração nevado,
Cortou-me em pequenos pedaços,
E mostrou-me, enfim, nada sei.
Da tristeza, enfim, nada sei, nada sei, nada sei.