Dark Paradise
A sintaxe tentando ultrapassar as bordas do papel, o neologismo fazendo caminhos em minha cabeça, a sobriedade voando como um fantasma de fumaça, eu tragando lágrimas e rangendo os dentes. Posso agarrar a podridão que sempre esteve acumulada, como centenárias cinzas guardando as lembranças numa incógnita urna.
Embriagada ao som de Dark Paradise, corroendo as paredes da única sensação que ainda me mantém ligada àquela velha dependência. A filha do diabo está mais deprimida que o habitual, no fundo do poço, mas ainda sempre desejando cavar um pouco mais. Poderia me tocar, fingir que tudo se esvaiu por um instante?
A fumaça já tomou conta do quarto parecendo um céu baixo de nuvens, no qual meus dedos podem brincar perfurando o seu branco leitoso, feito um Lumbo no mar. Mas aí, num surto temporal, me recordo que brincamos de expor vísceras, e as minhas continuam sobre a mesa. Perversa conclusão: A sua bruxaria é poderosa, e como um feitiço do tempo, penso em você todos os dias.