Abrigo

Há pessoas sofrendo, angustiadas, experimentando da dor da solidão. Há pessoas se sentindo sozinhas, esquecidas, completamente abandonadas. Há pessoas que, antes de se deitarem, abrem alguns aplicativos, atualizam a área de notificações e se entristecem ao perceberem que ninguém se lembrou delas. Há pessoas que passam semanas sem receber ao menos uma mensagem perguntando se estão bem, ou simplesmente desejando um bom dia. Há pessoas que andam no meio da multidão, mas enxergam-se como se estivessem passeando em meio ao deserto. Há pessoas que se desdobrariam em inúmeras por alguém, no entanto, experimentam da amargura que é ter a sensação de que, se precisarem, ninguém estará ali por elas. Há pessoas com dificuldades de aproximação. Há pessoas com dificuldade de expressão. Há pessoas que amam enormemente, cuidam, fazem o impossível por quem importa, entregariam a vida se necessário, mas possuem seus próprios traumas, suas próprias inseguranças, correntes que as impedem de se entregarem mais abertamente aos corações nos quais buscam morar. Há pessoas chorando por não saberem ao certo se, num dia de tempestade, encontrariam algum abrigo. E essa pessoa pode ser o seu marido, pode ser a sua filha, pode ser o seu melhor amigo. Essa pessoa pode estar bem ao seu lado e você nem sabe disso. Acontece. Às vezes só sabemos o quanto alguém esteve se sentindo tão sozinho, perdido e abandonado quando já não podemos lhe oferecer a nossa companhia.

E é triste. Só quem já experimentou a dor da solidão sabe o quanto é doloroso andar por aí, tentando seguir a vida, sem ter alguém ao lado. E não é no sentido físico. Nossos amigos, as pessoas que nos são importantes, possuem suas próprias vidas, de maneira que é impossível que caminhem fisicamente conosco a todo momento. É no sentido emocional. Afetivo. Só quem já passou dias, semanas e até meses sem receber uma singela mensagem sabe o quanto é desesperador olhar para aquele tanto de contatos e se sentir distante demais. A sensação é de inadequação. E sentimos que, se enviarmos algum “oi”, estaremos incomodando porque, se quisessem realmente falar conosco, teriam tido a iniciativa. Então dói. É uma tristeza dolorosa.

Meu convite com esse texto é para que você esteja mais sensível às pessoas que são importantes em seu mundo. Mas repare bem nas palavras que utilizei, na frase que escrevi. Você não precisa se fazer presente a todas as pessoas do mundo nem a todas as pessoas que, por algum acaso, passarem pela sua vida. Só precisa se importar realmente com aquelas que são verdadeiramente importantes. Cuide dessas pessoas. Abrace essas pessoas. Desvista-se de seus medos, das suas resistências, e permita que essas pessoas se sintam amadas, vistas e notadas por você. Permita que elas sabem que em você sempre poderão encontrar um abrigo nos dias de tempestade, naqueles dias nos quais o vento sopra forte, a chuva cai torrencialmente e os trovões são ensurdecedores. Não precisa estar ao lado delas fisicamente. Mas você pode se fazer sentir. Uma ligação inesperada, uma mensagem para saber como estão as coisas, uma visita surpresa àquele amigo querido ou àquela filha amada. Coisas simples. Que podem ser feitas sem tantos “gastos”. Coisas que podem salvar a vida de alguém. Que podem garantir a certeza de que não estamos sozinhos e que não são as distâncias que nos separam, mas a indiferença, o desinteresse e a frieza emocional que jamais podemos permitir que se coloquem entre nós e aqueles que de fato nos importam.

(Texto de @Amilton.Jnior)