Perguntas à lua
Às vezes não conseguimos chegar a respostas. Pensamos e pensamos, damos voltas e mais voltas em torno da nossa mente, mas não conseguimos chegar a alguma conclusão que seja capaz de aliviar nossos questionamentos, acalmar nossa alma sempre tão sedenta por algum esclarecimento. O fato é que, embora isso nos desaponte, a vida nem sempre nos dará respostas. Pelo contrário. Quanto mais perguntarmos e questionarmos, mais perguntas teremos a fazer e mais questionamentos gostaríamos de responder. Nesses momentos, resta-nos apenas uma coisa: encarar a Lua, a companhia dos solitários, a confidente dos apaixonados, a modelo dos artistas, e a ela lançarmos nossas perguntas na esperança de ao menos sermos ouvidos por ela que, ao invés de julgamentos, oferecerá um compreensivo silêncio. Como faço agora. Olhando para a Lua...
Por que o mundo anda tão caótico, desorganizado e incompreensivo? Por que as pessoas, quando seria muito mais fácil caminhar pelo lado do amor, quando seria muito mais fácil manter por perto alguém importante, partem para a ignorância, enchem-se de arrogância e, por motivos bobos, brigando por gente que nem as conhece, acabam destruindo laços e causando a separação entre os corações? Por que as pessoas não entendem que o tempo é limitado, curto, efêmero, passageiro para que insistamos em desentendimentos que nos farão perder um tempo que nunca mais voltará? Perca essa que, no adeus, diante da morte, arderá em nós através de um amargo e imensurável arrependimento pelas palavras que não foram trocadas, pelos olhares que não foram compartilhados, pelas companhias que não foram cultivadas quando a nós eram possíveis.
Por que ainda crianças temos que sofrer? Por que não conseguem simplesmente olhar para nós com carinho, afeição e ternura? Por que arrancam lágrimas de nossos olhos? Por que mancham a nossa inocência? Por que não nos permitem simplesmente sonhar e criar? Por que não nos deixam sorrir? Por que as nossas gargalhadas incomodam? Por que as nossas perguntas são ignoradas? Por que as nossas conquistas não são comemoradas? Por que nos dão às costas? Por que roubam de nós a nossa infância? Por que não podem simplesmente nos amar? Amar não é tão difícil. Claro que não. Mas por que não conseguem?
E por que já adultos, quando erramos, não conseguem ver o humano que apenas tentava acertar? Por que não veem as intenções atrás de nossos atos? Por que não conseguem ouvir que, por trás de uma palavra ácida, poderia estar o pedido de socorro que a nós custa tanto pedir? Por que andamos tão insensíveis ao ponto de definirmos as pessoas por um simples erro ignorando todos os demais inumeráveis acertos? Por que nos é tão difícil perdoar?
Por que o ódio tem estado tão em voga? Por que a raiva nos olhos? Por que o rancor nos espíritos? Por que a mágoa como um norteador aos corações? Não é mais fácil amar? Eu sei... Amar implica em renúncias, em desistências, em mudanças. Mas o ódio resulta em solidão, isolamento, frieza. E esses resultados não são dirigidos apenas aos outros, mas a nós também. O ódio também nos faz detestar a nossa própria existência. Não nos deixa em paz. Não nos permite simplesmente descansar quando o corpo já se sente exausto. Mas o amor tem o efeito oposto. Porque o amor transmite cuidado, proteção, companheirismo. Então por que simplesmente não amamos?
Por que amadurecer dói tanto?
Porque a vida, para mim, era muito mais fácil quando eu era apenas uma criança cuja preocupação se resumia em acordar cedo para assistir ao desenho favorito. E hoje minha preocupação é saber como será o mundo daqui uns anos, quando meus ídolos todos tiverem partido, quando minhas referências já não estiverem mais ao meu lado, quando meus poucos amigos, que nem sei ao certo se tenho cuidado deles como deveria, talvez não estejam mais ao meu redor. E isso dói. Essa incerteza angustia. Não era para o amadurecimento ser legal? Não era para a vida adulta ser a definição da liberdade? Não era para eu simplesmente abrir as asas e voar aonde quisesse? O problema é que o mundo parece caótico demais e se eu voar talvez não encontre lugar onde pousar em segurança. Por que a vida tem que ser tão complexa?
Ou será que sou eu com minhas inquietações que a deixo complicada? Seria eu o verdadeiro complexo? Onde está a simplicidade? Aquela dos poetas? Aquela dos românticos? Aquela dos artistas? E se a simplicidade estiver simplesmente dentro de mim? Como posso me tornar simples? Como posso, assim como a Lua, encontrar essa paz que a ilumina? Não poderia ela iluminar a mim? Não poderia ela afastar qualquer traço de escuridão que persiste diante dos meus olhos?
Mas talvez seja normal. E todos tenhamos questionamentos. Porque a verdade é que a vida nos assusta todos os dias por perguntas que fazemos sem pensar, perguntas sem resposta, perguntas que talvez só sejam respondidas se vivermos plenamente. Mas, então, o que seria viver plenamente? Talvez a gente só descubra tentando viver.
(Texto de @Amilton.Jnior)