Demolição

Mais uma vez, mais uma noite, e a dor me consumindo, o peito latejando, mas ainda desejando o ferro na ferida.

A queda foi pequena, não foi suficiente para quebrar todos os ossos do corpo, não foi suficiente para me levar ao eterno sono. Ainda estou viva, tropeçando, mancando, torta. Preciso fazer este buraco desaparecer.

É trágico, sou eu quem está em ruínas, mas você é a única que precisa ser salva. Nós estamos desabando. Então, eu sou como Anna O, a paciente de Josef Breuer, sempre insistindo estar mais no seu mundo do que no meu.

Prendendo a alucinação na ferrugem de uma velha lâmina, eu nunca desejei que tudo se arruinasse, mas as moscas botarão seus ovos. Foram falhas as tentativas de monopólio da conversa feita por mim, você nunca ouviu. Nunca quis interagir. Tentei entender, buscar um meio-termo, equilibrar, mas era impossível a erva daninha não brotar. Eu realmente nunca quis que acabasse assim, mas as moscas desejam botar seus ovos. A podridão se instalará. Não haverá remédio, se não tudo demolir.

Lemos ACR
Enviado por Lemos ACR em 26/06/2023
Código do texto: T7822545
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