DE SUBMERSÍVEL ...SOB O MITO DE ÍCARO À FRANKENSTEIN

Pensamento &Resenha

Pela enésima vez, coincidentemente à presente tragédia do submersível TITAN, estou lendo a obra literária de Mary Shelley, o livro FRANKENSTEIN, publicado em 1918.

Curioso que, a cada releitura, sempre em idades diferentes do leitor, a gente capta uma mensagem humanisticamente profunda que não havia percebido antes.

A obra é extremamente humanista, sob vários aspectos, tanto "humanos - existenciais",quanto psicossociais e político- sociológicos; num contexto de aspectos pétreos , cabíveis a qualquer época , posto que confronta a necessidade da Natureza Humana de desafiar o intangível, a de fazer descobertas únicas, inéditas, frente ao todo que a Humanidade já fez.

E depois...mais contemporaneamente, fazer uma " selfie".

Às vezes dá certo, às vezes não.

E o que Mary Shelley procura instigar no leitor é o fato de que absolutamente tudo tem seu preço, inclusive as maravilhosas descobertas da Ciência.

Ela faz um " link" realisticamente poético sobre as consequências de todo ato do Homem sobre o Homem e seu meio ambiente, que com suas eternas e soberbas ASAS DE ÍCARO " acredita ser possível alcançar Horizontes NUNCA DANTES NAVEGADOS, sem pagar o pesado pedágio do sofrimento.

Ícaro derreteu suas asas no seu vôo sob o calor do sol.

A criatura de VICTOR FRANKENSTEIN zarpou para as águas profundas e escuras do polo Norte depois da morte de seu criador .

Ambos sofreram as consequências do grande feito em meio à arrogância do cientista e a incompatibilidade existencial da sua criatura.

Uma metáfora que, de fato ,vale para a vida de todo o sempre. Inclusive na presente era da INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.

O acidente com o submersível americano TITAN, cujo triste desfecho foi anunciado há poucos minutos, também me reportou à obra de Mary Shelley, oportunidade em que, mais uma vez, se ratificou a mesma crença irremediável na soberania do conhecimento humano, inclusive a depositada no TITANIC," ESSE NEM DEUS AFUNDA!", frase histórica que consta ter sido dita antes do navio zarpar.

E a certeza foi revogada nas águas oceânicas profundas, como o foi com o submersível TITAN, a configurar, quem sabe numa FIGURAÇÃO de alerta metafórico, a fúria dos deuses dos mares ...

Fato é que, ao que tudo indica, estamos longe de desvendar, se não todos os segredos da Natureza, ao menos sua força traiçoeira e sempre imprevisível.

Afinal, nem na mitologia os deuses podiam ser desafiados.

A Ciência caminha sob verdades temporárias.

Que nos haja a bússola do bom senso na navegação pelo conhecimento científico.

Nenhuma arrogância fica impune, é o aprendizado que nos fica...na arte e na vida.

Afinal, ambas sempre caminham juntas numa correlação de existência gemelar.

Mavi, lamentando o ocorrido